sábado, 23 de julho de 2011

Mande lembranças a Janis e ao Morrison, por mim, Amy!!



Não sou desejar mal a ninguém, mas será que da próxima vez da para morrer uma dupla sertaneja, um Micel Teló, Luan Santana, um grupo de funk, pagode....

Mande lembranças a Janis e ao Morrison, por mim, Amy!!

domingo, 3 de julho de 2011

Ete..Ete..ete.. ele é o Dodete



Dodete.. Ah, o Dodete. O Dodete é de longe a pessoa mais engraçada que eu conheço. Um cara extremamente do bem, gente boa, desleixado, enrolado ao extremo, mas de um coração e de uma capacidade de transformar coisas do cotidiano em situações hilárias enormes.
Algumas destas passagens já contei aqui. Como o dia em que ele fez xixi em um amigo nosso, ficou dependurado em um poste de madeira depois de derrubar um andaime, não deixou ninguém dormir por causa de um creme dental, o dia que ele
achou que na encenação da sexta-feira da paixão teriam matado Jesus com um tiro e por ai.
O Dodete, quando mais novo, era uma peça só. Magrelo, alto e com o problema na fala. Ele não consegue falar erres, eles e mistura um monte de letras e palavras.
O linguajar peculiar, o fato dele ao tomar água babar sempre e a vocação, ainda que inocente, para o mal feito tornam o Dodete um personagem incrível, que se eu não conhecesse pessoalmente iria dizer que eu mesmo inventei.
Sou testemunha ocular de sua comicidade, algumas histórias vi, outras ouvi, mas não duvide de sua veracidade.
O Dodete, quando pequeno morava em Contagem, em uma casa que mais parecia um sítio. Ele começou a falar com quase cinco anos de idade. As idas e vindas ao fonoaudiólogo motivaram a primeira estripulia. Um dia, em plena capital, ele era arrastado pela mãe quando viu um carro do corpo de bombeiros:
- Mãe..mãe. Pá que que os bombeios tão coeendo?
Sua mãe explicou com toda a paciência que quando havia um incêndio, os bombeiros iam apagar o fogo. Dias depois, o Dodete, botou fogo na própria casa só para os bombeiros virem na casa dele. E pior: não foi só uma vez não, foram duas.
Outra vez, o irmão dele não deixou ele andar de bicicleta. O Dodete foi lá caladinho e desapertou a roda da frente da bicicleta. Tudo ia bem até que o irmão dele, numa descida, resolveu empinar a bicicleta. Lá se foram a roda e os dentes da frente.
Depois que o Dodete se mudou para Itaúna, passamos a conviver diariamente por anos. De longe o mais sacana de todos nós, mas como disse uma sacanagem ingênua, só para fazer os outros rirem. Tínhamos um ditado: Se o Dodete está calado ou é porque vai vomitar ou porque está aprontando alguma.
Ele tinha o estomago tão fraco, mas tão fraco que quando ele enchia o nosso saco, bastava a gente começar a fazer barulhos de vômito e falar de coisas nojentas para ele ficar com ânsia e se aquietar.
Lembro uma vez que fomos a um rodízio de pizza, o Dodete comeu horrores e na volta ele veio implicando o Samir e o Rhafir. Ai o Samir começou a falar porcarias e fazer um “blubluar” como se estivesse vomitando. Não deu outra. O Dodete encostou em um poste e lá se foi o rodízio.
Quando entramos na pré-adolescência, na época das paqueras e primeiros beijos, o Dodete arrumou uma paquerinha. O nome dela era simples para nós, mas para ele era difícil pois tinha G, R, etc. Como não a vejo há muitos anos, vou omitir o nome e chamá-la apenas de Graciane, que tem uma grafia semelhante. Para evitar constrangimentos é claro. Ele ligava para ela e dizia:
- Ô Gaciane. Eu goto de você demais. A gente podia sai para tomá um Guaaná.
O primeiro beijo que ele deu na “Gaciane” foi hilário. Era aniversário dela. E ela queria um CD do Bon Jovi. Não achamos o CD aqui em Itaúna e fomos para Divinópolis. Só que o Dodete não sabia o nome do CD, só da música que ela gostava. Ele entrava na loja e disparava:
- Moça. Tem CD do Bon Jovi, aquele que tem a música “aigoenau”? (no melhor inglês: “I'm going down”, proferida no refrão de Blaze of Glory).
O pessoal das lojas demoravam uma meia hora para descobrir qual era o idioma e qual era música. Besteira do Dodete. Era só ele ter perguntando o nome ao Fabrício, que era fã do Bon Jovi e tinha até poster no quarto dele (risos, ele sempre fica bravo quando conto isto aqui na coluna, risos. Diz que o poster era do irmão. Sei?!).
Finalmente achamos o CD e lá se foi o Dodete para o aniversário. Voltou com a cara mais feliz do mundo e a gente perguntou:
- E aí? Beijou ela?
- Bezei. No potão. Tô sentindo a boca dea até agoa. Ea é especial.
Para pré adolescentes aquilo foi uma explosão de gargalhadas. Crescemos e o Dodete continuou hilário. Ele tinha uma característica que guarda até hoje: quando ele pega a usar uma roupa, é só aquela. O Dodete já teve a fase da calça verde,
das camisetas, da camisa do Denis Pimentinha e tantas outras. Até tênis era assim. Uma vez ele comprou um Topper Dynatec, o tênis mais caro da época. Usou por quase um ano e quando ele acabou, comprou outro, igualzinho.
Só não podíamos mexer no boné dele. Era a gente tentar encostar e ele dizer:
- Pó paa. Meu moné não.
Era tão neurado, que uma vez nos metemos em uma briga. A gente apanhou. Apanhou para valer, mas o Dodete não tinha apanhado ainda. Ele era ágil e fugia, mas teve uma hora, que ele estava segurando um cara, ai o cara, sem querer, bateu a mão no boné do Dodete.
Ele o soltou, levou as mãos na cabeça e disse:
- Meu moné não.
Resultado: um olho muito roxo do Dodete.
Queria contar aqui de como ele foi orador da turma do tiro de guerra e confundiu o nome do Subtenente, ao invés de chamá-lo Getúlio da Silva chamou de:
- Iustissimo Subtenente Getuo da Selva.
Mas vai ficar para a próxima postagem, porque para contar as minhas histórias tenho que contar caracteres também.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Coisas prestes a completar 33



Vendo memórias, não sonhos e nem pesadelos. Vendo uma vida que não foi sua e nunca minha também. Vendo imagens rabiscadas em letras garrafais de um jornal. Vendo lembranças emolduradas em um sapato velho e gasto no pé direito. Vendo solidão, vendo inquietude, dou, de graça, com todo o pleonasmo possível, alegria, pelo menos tento que não entrem na porta da tristeza.
Vendo negativos de uma história caminhada em fragmentos. De uma expectativa de coisas que nunca aconteceram ou que se aconteceram esqueceram-se de me vender.
Vendo um velocípede, verde, vermelho, de três rodas que pode levá-lo a qualquer lugar sem precisar de esforços. Vendo um quintal enorme com inúmeras árvores e uma mangueira com um balanço, capaz de fazer você saltar tão longe que nem caxumba lhe pegará.
Vendo duas escadas de cimento postas lado a lado, que mimetizam traves em um campo de futebol. Vendo uma área de serviço com um tanque, onde quando se lava roupa, muito se molha e muito se xinga, armas feitas de elásticos com munição de tampinha.
Vendo um gesso, para que possa ser enterrado junto com o sofrimento. Vendo um caminhão que distribui refrigerantes feitos por índios Bugres. Vendo um tanque que de pé quebrado inveja os saltitantes e machuca a perna de quem gosta de olhar o céu em busca de doce de leite.
Distribuo, mas não vendo, apenas empresto, amizades feitas debaixo de uma Mangueira, ou seria em uma escola de tijolos de construção?
Vendo um pôster do Zé Carioca, manete de Atari, corda arrebentada de Vai e Vem, tamancos feitos de latinha de Nescau, baratinhas que não é preciso pisar para que sejam esmagadas. Vendo pombos, micos, cachorros. Só não vendo minha tartaruga que ficou para trás na calmaria das boas coisas e se hibernou no paraíso. Vendo um Lupy, vendo um Juquinha, vendo um pezão.
Vendo meu primeiro beijo, vendo minha primeira paixão. Vendo idas e vindas infinitas a capital, recheadas de bananas nanicas, não maçãs, mas sim bananas.
Vendo o cheiro de parafina, os choques nos braços. Vendo um médico que de tão competente é capaz de fazer caminhar e criar monstros. Vendo um playmobil sem cabelo, vendo um quintal lamacento com espigas de milho de lado a lado. Vendo uma menina andando em uma barra circular vermelha no meio da bola do quadro. Vendo uma mobilete batida em muros de chapa.
Vendo três copos de vitamina de banana, um grande, dois pequenos. Vendo perfumes, Avon, bijuterias compradas na galeria do Ouvidor, capazes de sustentar os sonhos. Vendo um avô, uma poltrona e o Jornal Nacional. Vendo uma avó e um fogão de lenha. Vendo uma família distantemente amada na boca de uma favela. Vendo outra avó de queixinho arrebitado sempre presente.
Vendo alguém despencando de um pé de fruta do Conde, uma casa centenária em um chão de terra vermelha. Vendo um riachinho e bois para se correr em desespero. Vendo um barracão, vendo um Fusca branco, vendo festas com piscas-piscas de Natal. Vendo gelo seco feito de talco, vendo uma bicicleta voadora, vendo livros em biblioteca.
Vendo cartas, vendo um entregador de jornal cansado, vendo letras tipografadas no sábado pela manhã. Vendo máquinas de escrever quebradas, fitas de vídeo empoeiradas. Vendo lágrimas, vendo uma boa visão, vendo colírios para se pingar duas ou uma vez ao dia. Vendo botas com ferro até o joelho.
Vendo o medo, vendo a insegurança. Vendo confiança, vendo e-mails, vendo conversas, vendo tristeza. Vendo, vendo o lusco-fusco, vendo um fantasminha, vendo guerra de mamonas verdes, vendo sabotagens e travessuras. Vendo choro na linha do trem, vendo uma casinha azul de janelinhas brancas onde o vento da madrugada tem permissão de entrar sempre que quiser. Vendo xadrez, vendo Poker, vendo passeios não feitos, beijos não dados, sonhos não realizados. Vendo desejos, engraxo, não vendo, sapatos.
Vendo insensatez, vendo bonés, vendo piscinas para se atravessar, óculos para nadar e braços para se quebrar com bolas de basquete. Vendo amizades, Vendo kichutes, congas azuis, cadernos em que se pode apenas escrever na folha, não na contrafolha. Vendo histórias inusitadas.
Vendo casinhas feitas de madeiras, enceradas com cera vermelha. Vendo declarações de amor, buquês de rosas, surpresas, serenatas. Vendo decepções. Vendo decepção.
Vendo mau caráter, vendo cartões roubados em papelaria, vendo um cartucho de vídeo-game do Sonic. Vendo um barracão. Pago para levar pão com salame e miojo. Vendo leads, cabeças, notas pé, sonoras, edição não linear, diagramação, gatekeepers, vendo conhecimento.
Vendo o Mineirão lotado, vendo gols do Guilherme e Marques e as tantas eliminações cruzeirenses, inclusive a do brasileiro de 99.
Vendo o provincianismo, vendo chefes prepotentes, chefes gente boa, vendo colegas de trabalho, vendo selos, vendo energia.
Vendo tudo, tudo passando, tudo se indo, tudo vindo. Vendo, sem remorso. Vendo para comprar tudo novo e de novo. Há só uma coisa que não vendo, para ficar curioso, nem vendo...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Flagrantes




Então que num dia de sol, três siriemas vieram dar o ar da graça na rua de casa...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Prometo me dedicar mais


As vezes passamos por períodos complicados, difíceis mesmo
e a primeira coisa que costumamos fazer é deixa as coisas que gostamos de lado.
As mudanças sempre são complicados, mas como diria Guimarães Rosa, o correr da vida embrulha tudo, mas o que ela quer da gente é coragem.
Prometo ser mais corajoso agora e tentar não deixar os meus sapatos escritos parados.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Coisas do Cotidiano, a gente só não sabe que coisas são essas




Toda semana é assim, não tenho a menor idéia do que vou escrever, mas confio em meus sapatos escritos.
As histórias vão surgindo por entre letras e caminhadas, mas exclusivamente esta semana eu ainda não sei o que escrever. Escrever é difícil para burro. Ainda mais quando temos a pressão de um monte de gente que vai ler, um gatekepper especial e um público em formação. Escrever
não é simplesmente cortar palavras, como diz Drummond.
Algumas palavras, assim como sentimentos, são tão fortes que nunca podem ser cortadas ou se tornarem invisíveis para sempre. Escrever de forma autoral é ainda mais complicado.
Tem dias que o texto flui, tem dias que ele emburra, tem dias que nem dias é, mas é preciso escrever. Acho que já deu para perceber que essa coluna não será como as
outras, não será recheada de humor ou de críticas sociais.
Esta será uma coluna de enrolação, onde vou levar o leitor por um caminho e no final ele vai dizer assim: “ô lixo, já acabou, texto doido?!”.
Mas escrever, assim como filosofar, é preciso e quem nunca escreveu nada deveria se aventurar. Hoje me sinto com vontade de estar em uma Kombi, pintada com formas psicodélicas, numa pracinha qualquer, de uma cidade qualquer, escutando a chuva batendo no teto e conversando bobagens para ver se a inspiração bate.
Mas os desejos não produzem textos e nem enchem sapatos, o máximo que eles produzem são fadas, que podem ser as menores do mundo ou as que só existem em nossa imaginação, como um dia pensou o inglês J.M. Barrie, autor de Peter Pan.
Textos também produzem sonhos e incógnitas na cabeça de muita gente que lê essa coluna e pensa que ele foi escrito para alguém ou com um porquê. Na verdade, este texto pode estar cheio de energias, que em camadas, como as de cebola do Shrek, podem levar a luz plena. Mas isso pode ser apenas um devaneio, como pensar que Dom Quixote pode estar na esquina em busca de doces de beijinho ou tabuleiros de xadrez, para jogar com Dulcinéia.
As palavras buscadas e rebuscadas, desenhadas e codesenhadas podem levar a personagens de quartetos fantásticos de alguém, que se sente carente, ou simplesmente desembocar em um beijo caloroso e dormir de conchinha embaixo de um edredom azul.
A coluna de hoje, para a maioria, não vai dizer nada com nada, mas para alguns ela vai ser traduzida em cotidiano. Escrever realmente é difícil para burro, mas para entender um texto completamente como esse tem que ser como elefante, que tem uma boa memória, mas é burro também. É conhecer os segredos da esfinge traduzidos em decifra-me ou te devoro.
Então?! Vocês podem me acusar de tudo, só não podem dizer que eu não avisei antes e que a condicionante era terminar o texto dizendo assim: “ô lixo, já acabou, texto doido?!”.

Exageros, amizade e cadeado

Há amigos que são para sempre. Não importa quanto tempo à gente esteja sem se ver, quando nos reencontramos é como se não tivéssemos nos separado nem por cinco minutos.
Os meus amigos são assim. Passamos muito tempo juntos, mas com as atribulações e as responsabilidades da vida adulta acabamos nos afastando um pouco.
Alguns desses amigos seguem esta coluna, outros não, mas eles sempre farão parte dela, pois as histórias dos meus sapatos escritos estão recheadas de amizade.
Quando éramos crianças/adolescentes sempre nos encontrávamos na pracinha da Igreja do bairro de Lourdes. Éramos um tormento e um hiato de alegria no lugar. A pracinha era sempre movimentada com a nossa presença e do futebol às brincadeiras de polícia e ladrão a gente sempre transformava os jardins suspensos em palcos de atividades físicas.
Exageros também eram por nossa conta e algumas beatas, que também exageravam na fé, não gostavam muito de nossa presença. Em outubro, a pracinha se enchia de fé e de gente, que invadia o nosso espaço para celebrar Nossa Senhora Aparecida. Em um desses anos, exageradamente arrumamos uma brincadeira um tanto estranha.
Um de nós tirou o cadeado e a corrente utilizada para prender nossas bicicletas voadoras e começamos a prender uns aos outros. O dono da chave é que decidia quando iria soltar o escolhido.
Fazíamos questão de prender nossas vítimas próximas à entrada da Igreja, só para constranger o preso.
Em uma dessas prisões, prendemos o Guilherme pelo pescoço, em um poste de iluminação do jardim. Eram por volta das 14 horas, fizemos o nosso presidiário e continuamos a brincar. Como a próxima missa seria às 15, deixamos o Guilherme preso e para constranger ainda mais erguemos um “altar” com oferendas, flores, cachaça, farofa bem longe do alcance dele. O pessoal ia chegando e não entendia nada. Todo este sincretismo religioso soava tão estranho, mas nós chorávamos de rir.
Nesse meio tempo, apareceu a namoradinha do Guilherme que, indignada, resolveu ajudar o amado.
Com uma faca de cortar pão ela tentava serrar os elos grossos da corrente. A cena dantesca para nós era digna de Molliére, rei da comédia teatral.
Depois que o pessoal entrou na Igreja e a missa começou, decidi ir embora para casa. Era sempre assim, eu descia para tomar café, banho e voltava à noite para as barraquinhas. Voltei por volta das 19h30, de banho tomado, renovado e com roupa de festa e enquanto descia a rua 10 notei que o Guilherme estava preso no mesmo lugar. Aí pensei: “prenderam o Guilherme de novo” e já comecei a rir.
Quando cheguei perto dele fui logo perguntando se ele tinha sido pego de novo. Com os olhos vermelhos e a voz embargada ele me respondeu: “Não. Eu estou preso desde aquela hora. Eles foram embora e me deixaram aqui. Estou morrendo de fome, de sede e ainda me segurando para não fazer xixi nas calças” e desatou a chorar.
Coube a mim ir atrás do carcereiro e aliviar o sofrimento do preso.
É! Exageros cometíamos, mas o maior deles era ser superlativos em amizade.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Nine



Só case se tiver certeza. Se casar, torne intenso cada momento vivido. A gente nunca sabe quando a alegria vai acabar. Divida sonhos, divida o dinheiro, jogue fora as velhas e emboloradas preocupações.
Se tiver em dúvida ou se sentir dividido, esqueça os conselhos, ouça seu coração. Ame apenas uma pessoa de cada vez. Só traia se não tiver sido traído. Porque quem já sofreu a dor de uma traição jamais irá proporcionar o mesmo sentimento a quem se ama. E lembre-se se trair terá que aguentar todas as conseqüências.
Tome mais sorvetes italianos de casquinha, ria mais, chore menos, preocupe-se menos. Liberte-se das conveniências, destrua os ciúmes e saiba que o máximo que ele vai lhe trazer é uma azia exagerada.
Olhe nos olhos, durma mais de conchinha. Ame mais debaixo de um edredom azul. Acredite em você quando disser que ama. Não engane, não esconda, não se desespere. Esqueça a saudade de noitadas, deixe o passado onde ele deveria estar, no passado. Não tente resgatar algo que já se perdeu ou fazê-lo conviver com seu presente. Isto não vai dar certo.
Viva o hoje, preocupe-se cada vez menos com o futuro e ame cada vez mais o cheiro de terra molhada numa manhã chuvosa.
Faça mais chocolates quentes com chocolate amargo. Espante mais lagartixas, não deixe os ratos da discórdia invadirem o seu coração. Se solte mais, viaje cada vez mais, mesmo que for para o seu eu interior.
Ame mais dentro do carro. Corra mais vezes nu pela casa. Faça cada dia mais, mais amor debaixo do chuveiro, na água quente, mesmo que seja em uma pousada fria.
Cante, se desdobre. Produza canções sem sentido. Desenhe flores em papéis de contas de supermercado. Prepare jantares. Deixe a comida queimar em troca de beijos calorosos. Escute cada vez menos a inveja de quem de fora vê esse amor.
Ouça Milton, visite Ouro Preto ou qualquer outra cidadezinha em que é possível encontrar a felicidade em uma pequena cama de hotel. Quando a dor te cortar busque forças na paixão.
Empolgue-se ao compartilhar momentos de sucesso, incentive sonhos, destrua pesadelos, acorde de madrugada para acalentar o sono.
Sinta o coração bater mais forte ao se reencontrar. Entre na sintonia do amor em pequenos cartões, em pequenos gestos, em caldos feitos em noites frias. Ame o colo, o ombro onde se deita em berço esplêndido. Queira sempre por inteiro e tenha sempre sua metade de volta.
Desfrute de cada beijo dado no pescoço, descubra o prazer de um sorriso sem motivo. Respeite o silêncio e a tristeza, mas não faça deles sua bandeira e nem deixe que o outro os tome como estandarte. Beba mais. Tome um porre de vez em quando e case-se de novo, com a mesma pessoa é claro, mesmo que no outro dia não se lembre, alguém vai fazer questão de recordá-lo como se encontra a felicidade. Passe mal, vomite se necessário, mas lembre-se que do outro lado da porta alguém sempre estará pronto para lavar sua blusa suja.
Seja a síntese e antítese. Desnude-se sem pudor. Derrote os mal amados. Acredite no amor que dá certo e esteja certo que mesmo na incerteza do dia seguinte ele ainda estará lá.
Resista às tentações logo de cara. Não deixe que o mal se aproxime, mesmo que de brincadeira. Não jogue tudo fora por um simples gracejo. Saiba que o que pode não significar nada para você, pode destruir a única que certeza que o outro tem e simplesmente fazê-lo perder o chão. Perceba que às vezes palavras ditas ou escritas sem querer magoar, magoam muito e carregam emoções para o mar da melancolia. Não toque onde não deveria. Não procure algo que possa se arrepender depois. O instante entre a felicidade eterna e a desconfiança pode estar a um clique. Arrependa-se do que fez, evite repeti-lo, mas esqueça o logo depois.
Reforme a casa, plante um gramado, reforme pensamentos, plante carinho. Descubra a alegria em vestido vermelho, faça coisas boas mesmo que só você saiba quais são.
Dedique-se a amar quem você escolheu para se casar. Seja emotivo, prudente, não seja leviano com os sentimentos dos outros. Seja você, descubra-se fraco perante as situações que causarem dor a pessoa amada, mas demonstre-se forte, ainda que por dentro estiver em frangalhos.
Mesmo que esteja magoado e queira brigar, xingar e perder a razão, não faça isso. Só servirá para se arrepender no dia seguinte e humilhar quem se gosta.
Visite museus ao livre, áreas ecológicas onde é possível sentir o cheiro da vida, brigue para entrar em um parque aquático para ter lembranças e sorrisos depois. Aperte a mão ao decolar, respire aliviado ao pousar pela primeira vez. Não fique constrangido ao dar de testa em um box de banheiro. Tente não passar mal no dia do seu noivado. Mas se sentir enjoado e com ânsia, relaxe. As boas emoções da vida são capazes de efeitos ou sensações físicas que vão muito além de nossa compreensão.
Respeite a individualidade, não leia aquilo que não é para você. Acredite no poder das palavras sejam elas para o bem, sejam elas para o mal. Diga não quando tiver que dizer não. Nunca use o talvez. No máximo fique em silêncio, que geralmente nunca quer dizer sim e nunca mais entre nesta situação.
Chore! Mas só chore quando realmente tiver motivo. Entristeça-se aos descobrir coisas ruins, mas não se martirize ruminando aquilo que não interessa. Saiba que mais dia, menos dia você vai magoar e será magoado também. Só não permita que isto seja uma constante. Jamais durma sem falar com o outro. Jamais deixe o lugar vago na cama. Despeça-se sempre com um beijo e dê boa noite ao dormir. Reze ou ore como você preferir denominar o que chamo conversar com Deus. Mas faça-o sempre juntos.
Ame com toda a intensidade do seu coração. Descubra o ritmo certo, siga o ritmo certo e só se case se realmente tiver certeza.
Porque o amor mora nos pequenos detalhes do cotidiano e o diabo também.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A comédia em pessoa



Sem delongas, para não dar preguiça de ler. Existem pessoas que só da gente olhar já dá vontade de rir. E têm algumas, que mesmo não querendo, ou as namoradas, esposas, mães, pais, filhos torcendo o nariz elas são engraçadas por natureza.
Uma das pessoas mais engraçadas que já conheci com certeza é o Dodete. Não é que o Dodete tenha uma naturalidade cômica, mas ele cria(va) e se envolvia em situações de dar inveja a qualquer comediante hollywoodiano.
O físico do Dodete, quando jovem, que lhe valeu o apelido de Grilo, a alta estatura e principalmente a língua presa, que o impedia de falar palavras corretas, sobretudo às com erres, compunham um personagem exemplar.
Quando conhecemos o Dodete todo mundo batia nele. De brincadeira é claro. Preocupado, o Fabrício um dia virou para o Calango e perguntou:
- Por que vocês batem no Grilo? Ele é gente boa demais.
- Gente boa???? Você vai ver quando ele pegar intimidade. Ele amola muito, isso sim.
Era verdade. Depois de um tempo também precisávamos dar uns cascudos nele para ele aquietar. O Dodete era aquele tipo de cara chato, gente boa. Que enche o saco de todo mundo, mas que no fundo todo mundo gosta.
Uma vez, fomos a um sítio. O Dodete e o Bruno beberam demais e acabaram passando mal. O Dodete ainda deu duas cabeçadas na parede, tentando entrar numa porta imaginária. Depois disso, a gente trancou os dois em um quarto e fomos dormir na sala. Espalharam uns colchões pelo chão. Eu juntei duas poltronas pequenas de sofá e fiquei todo “encumbucado” na cama improvisada.
Altas horas da madrugada os dois acordam. Vêm para a sala e dizem que vão dormir lá porque o quarto estava “azedo”. Só que o Dodete não deixava ninguém dormir. Aprontou uma falação, uma cutucação. Amolava mesmo. Depois de mais duas horas naquela peleja o Bruno levantou, acendeu a luz e foi taxativo:
- Agora é sério. Quem disser qualquer bobagem, gritar ou falar, vai tomar porrada para valer dos outros. Sem dó. Combinado?!
Todos concordaram. O Dodete ainda deu uma risadinha irônica antes de o Bruno fazer a contagem e apagar a luz:
- Um, dois, três...
Eu já tinha armado o soco para dar no Dodete. Todos nós sabíamos que ele não ia ficar calado. Mas, sempre tem um mas, por incrível que pareça, houve um silêncio sepulcral por alguns minutos naquela escuridão. Quando de repente:
- Auuuuuuuuuuuuu.
Era a deixa que todos aguardávamos para o espancamento do Dodete. Eu estava em posição privilegiada, pois estava mais alto que os outros. Naquele breu, todo mundo batendo no Dodete. Pior que quanto mais a gente batia nele, mas a gente ouvia a risadinha sarcástica do danado. Aquilo me dava uma raiva e eu o enchia de sopapos.
Minutos depois, de porrada ininterrupta, finalmente a gente escuta um chiado:
- Ai... Pára de bater, vocês estão batendo em mim, não no Dodete.
Instantaneamente a luz se acendeu. Do lado do interruptor, sem nenhum arranhão e até roxo de tanto rir estava o Dodete. O @##%¨&* tinha se levantado no escuro e buscado um local seguro, por isso o silêncio. Quando gritou, empurrou o Cabeça para o lugar onde ele estava deitado. O primeiro soco que o Bruno deu acertou em cheio a boca do estômago do Cabeça que, sem ar, não conseguia dizer que batíamos na pessoa errada. Depois disso a gente não dormiu porque o Cabeça ameaçou cortar a garganta do Dodete enquanto ele dormia.
Assim é o Dodete. Quando estudávamos, ele chegava todo esbaforido na cantina do Estadual:
- Ô Zuninho me dá uma cossinha, um guaianá e dos salgado – era forma dele pedir merenda e dois salgados.
- Dodete tem Guaraná não.
- Podi cê Guaiapan então.
Um dia fomos à casa do Sílvio Bernardes, diretor de Teatro. À época, a Ana Bella, filha do Sílvio, era bem pequena. Conversa vai, conversa vem, o Dodete fala com a menina que tinha um monstro no armário. Duas semanas depois o Sílvio reclama com a gente:
- Não sei o que a Ana Bella tem. Ela não quer dormir mais no quarto.
Outra vez, fomos encenar a dona Baratinha na extinta escola Crescer. O Dodete foi o Touro. Um monte de criança pequena assistindo a peça, rindo, se divertindo com a gente. Até que o Dodete entra em cena, corre em direção aos meninos e de uma forma nada lúdica, solta um mugido tão pavoroso que até a gente assustou. Preciso dizer que os menininhos não pararam de chorar mais e que a gente ficou sem o cachê da apresentação?
Mas o mais engraçado foi quando fomos a um parque de diversões. Assim que chegamos o Dodete, o Samir e o Rhafir foram andar no Rotor. Quando eles foram subindo eu ainda avisei:
- Dodete não anda nisto não. Você vai passar mal.
- Que isso Zuninho. Uuuuu mauco. Queo é rodá.
O Rotor começou a rodar e o Dodete gritando, fazendo gracinhas. Na hora que o brinquedo pegou embalo, só escutava o Rhafir dizendo:
- Vira para lá Mané. Não vai vomitar em mim não.
Um menino de sete anos começou a consolar o Dodete:
- Moço passa mal não. Moço, levanta a cabeça, moço...moço...
O Samir desesperou-se:
- Pára! Pára essa P* que estou contra o vento....
Eu que já sabia o que ia acontecer, corri para longe do Rotor. Pena que não deu para avisar quem estava próximo ao brinquedo. Um monte de gente, assim como o Dodete, teve que ir embora para a casa mais cedo...

Tudo que existe na sombra, existe na luz... exceto o medo


Aquelas histórias de assombração mexeram com a gente. No rosto de cada um estava estampado certo temor, ainda que disfarçado pelo grau alcoólico em que nos encontrávamos. Era só parar a conversa que ficávamos desconfortadamente quietos.
A essa altura o Bruno já estava no nível máximo da escala etílica e vendo a galera ressabiada, fixou os olhos na janela de madeira, da cozinha do sítio, e disparou:
- Se existe o Capeta que ele apareça aqui agora.
- Pára com isso Bruno. Isso não é coisa que se fale.
- Ah não Bruno, agora você pegou pesado demais.
Ficamos todos assustados e para piorar, escutamos passos, como se fossem cascos do lado de fora da casa. Satisfeito com a repercussão, o Bruno não parava de chamar o Tinhoso. O terror se instalou entre nós, porque tem coisas na vida que a gente não pode brincar. O Cabeça, ao meu lado, tremia e o resto da galera ria de nervoso.
De repente, alguém apagou as luzes. O Bruno começou a fazer uns barulhos estranhos, como que possuído. Preciso confessar que comecei a tremer também. Então, do nada, surgiu uma bola de fogo no meio da cozinha. Antes que pudéssemos ver o que estava acontecendo já saímos correndo. Eu só tive tempo de ver cinco ou seis passarem juntos por uma porta que só cabia um.
Até o Bruno se assustou, mas estava bêbado demais para correr. A bola de fogo girava pela cozinha escura. Instintivamente peguei uma faca para me defender. Até parece que ia adiantar. Como eu ia esfaquear uma alma penada?
De repente, da bola de fogo veio um sorrisinho conhecido. Fixei os olhos e vi que a assombração nada mais era que o Dodete. Enquanto o Bruno chamava o “Sete Peles”, o Dodete se levantou e apagou luz. Ai pegou a vassoura de coqueiro, colocou no fogo e começou a rodar pela cozinha escura.
O Tiaguinho, que tinha ficado imóvel de medo, explodiu num grito:
- Dodete!!!! Minha tia vai me matar – disse cada vez mais arrependido de ter nos trazido para o sítio.
O Dodete apagou a vassoura ou que sobrou dela, no balde que eu tinha pegado para apagar os “quase incêndios” anteriores O Bruno começou a falar besteira novamente. Todo mundo já estava irritado e ameaçamos:
- Bruno. Se você não parar a gente vai te trancar lá fora.
Como ele não deu ouvidos, cumprimos o prometido. O empurramos para a área de serviço e trancamos a porta.
No início, ele continuou com a história e fazendo barulhos, depois ficou em silêncio, depois bateu na porta:
- Gente abre aqui. Vou parar.
Nenhum de nós se mexeu:
- Gente. Abre. Estou ficando com medo. Abre logo senão vou arrombar a porta.
Nada. Todo mundo parado. Passados alguns minutos ouvimos novamente passos arrastados lá fora e a seguir veio barulho de algo se quebrando. Virei para o local de onde tinha vindo o som e ainda deu tempo de ver a porta da cozinha desmontando.
O Bruno tinha mesmo arrombado a porta. Assustado com o barulho, ele deu uma “voadora” na frágil porta, feita de ripas colocadas lado a lado. A porta não resistiu e as ripas se soltaram.
- Eu avisei – disse o Bruno saindo do meio do feixe de madeira.
- Gente! Minha tia vai me matar – lamuriou-se o Tiago, desta vez certo de que não deveria ter nos trazido.
Começou bate-boca geral, todo mundo xingando o Bruno. Pareciam mil pessoas. De repente a gente escuta o barulho de um soco. Ploft!
O Cabeça, que realmente tinha medo de assombração, estava xingando o Bruno que ficou irritado e deu um soco, meio que de brincadeira, no braço dele. Só que o Bruno é muito forte, então qualquer soquinho, mesmo que de brincadeira, faz um barulhão.
Foi como naqueles filmes. A falação cessou instantaneamente. Olhamos todos com cara de reprovação para o Bruno. O Cabeça, com a mão no ombro, parecia querer chorar. Só o Bruno ria e ao tentar sentar em uma mesa redonda a mesma desmontou e lançou um vaso ao chão.
- Gente. Minha tia vai me matar.
Acho que vocês já sabem quem disse isso?!
Decidimos ir dormir. Dormir nada. Um de nós, apagou devido à bebida. Colocamos ele no chão, para não cair do beliche. Só não percebemos que ele ficou respirando o veneno de rato deixado no chão, ao lado do colchão. No outro dia, não sabíamos se ele ainda estava tonto do álcool ou do veneno.
Já estávamos mais ou menos acomodados, com a casa escura quando vimos uma sombra pular do beliche.
- Oia o que que eu vô fazê – disse o Dodete se aproximando do nosso companheiro apagado.
Sempre quando alguém apagava, nós fazíamos sacanagem. Passávamos creme dental no sujeito, batom e outras peraltices. Mas daquela vez o Dodete se superou. O varapau se aproximou do amigo. Como estava um breu danado só escutamos o barulho de água caindo.
- Ô Dodete onde você arrumou água?
- Que água o quê? Eu tô é fazendo “sisi” nele.
Explodimos na gargalhada. Preciso dizer que depois que nosso amigo descobriu o banho que tomou nas pernas o Dodete nunca mais dormiu antes dele. Até hoje o Dodete está jurado porque é claro que contamos depois.
Para disfarçar, o Dodete jogou óleo de cozinha no coitado.
- Ah não, vai manchar o colchão. Minha tia vai me matar.
Depois disso, o Dodete pulou a janela do quarto e se dirigiu para porta da frente. O Aldair tinha se aboletado no sofá e já começava a dormir. O Dodete então, esmurrou a porta, acordando o coitado, que de um salto só ficou sentado na cama improvisada:
- Gente...gente...tem gente aqui.
- Aldaiiii eu vim te buscáaaaaaaa...
O Aldair se levantou. Correu para copa. Nisto alguém puxou o seu cobertor, que rasgou no meio certinho. De madrugada, o coitado do Aldair passou tanto frio que quase chorou de raiva. Na correria, alguém subiu em cima de uma cama de casal e a quebrou. Preciso dizer o que o Tiaguinho disse?!
O Dodete entrou e disse que havia vacas no curral. Estava explicado os passos que ouvimos.
No outro dia, tudo que se quebrou foi consertado. As exceções foram o vaso e o colchão, que realmente manchou. Bem. A história não terminou bem assim porque quando o resto do pessoal chegou no outro dia:
- Ué gente? Mas vocês não compraram bebida e comida para os dois dias?! Só sobrou essa meia garrafa de vodca???????
Pensei em correr, mas eu ia ficar por último mesmo....

Serpentina, banho quente e mais um incêndio ou de como o fogão também toca fitas



Voltávamos a pé da cachoeira. Quando nos encontramos com o Aldair, que vinha voltando da casa, depois de mais uma conferida no feijão, que ele insistia em cozinhar em uma panela, o que a gente mais queria era descanso e se preparar para noite. Tínhamos andado demais aquele dia.
Quando chegamos a casa, o feijão do Aldair continuava lá, na panela. Depois de mais de quatro horas de cozimento ele começava a dar sinais que seria vencido pela persistência do Aldair, que virava e mexia, colocava mais água no feijão.
Tomamos café e ficamos ali na “boresca”. Como éramos muitos, começou a briga por quem tomaria banho primeiro. Na casa, havia apenas um chuveiro de serpentina e como a caixa era pequena se a água acabasse teríamos que ir ligar a bomba. Só o Dodete parecia não se importar com a fila do banho.
- Pode i tomá banho pimeiio. Eu vô po último – dizia ele na língua sem os erres.
De cara já achamos estranho. Aquilo dele deixar a gente tomar banho primeiro só podia ser golpe.
Fizemos a fila, marcamos com chinelos a posição de cada um e limitamos o tempo do banho. Não me lembro bem quem foi o primeiro. Lembro apenas do urro que ele deu dentro do banheiro. Explico: para quem não sabe como funciona um chuveiro a serpentina, eu desenho. O chuveiro a serpentina é o avó do aquecedor solar. A mecânica é a mesma, só que ao invés da água passar pelas placas aquecidas pelo sol, ela passa pelos canos instalados dentro do fogão de lenha. Ou seja, em alguns casos a água ferve mesmo. Para se temperar a água é preciso abrir uma torneira de água fria e assim tomar um banho morno. O primeiro a tomar banho naquela tarde não sabia disso e como o Aldair tinha mantido o fogo aceso o dia inteiro, para cozinhar o danado do feijão, a água estava até supitando.
Sei que depois do grito, a galera descobriu como não se queimar e um a um fomos tomando banho:
- Agoa eu vô fica debaixo do chuveiio até a água acabá, sou o último mesmo – disse rindo o Dodete.
Sabia que ele não teria ficado por último à toa. Lá se foi o Dodete para o banheiro. Na boca, um sorriso irônico.
Passados alguns minutos, chega o Dodete, enrolado na toalha.
- Que bosta sô. A água acabô. Vou te que i lá liga a bomba.
Caímos todos na gargalhada. O diabo planeja, Deus toma. Trem bão. Achou que ia se dar bem em cima de nós, se ferrou. Lá se foi aquele varapau, em meio ao mato, ligar a bomba. Enquanto a caixa enchia, a carne na churrasqueira chiava gostoso. A gente bebia alegremente.
A esta altura, o feijão do Aldair já estava quase cozido. Segundo ele, agora era só deixar as brasas manterem o calor que quando a gente fosse jantar estaria no ponto. Ele apagou o fogo e deixou só nas brasas.
Quase uma hora depois, a caixa começou a verter água pelo ladrão. Sinal de que já estava cheia. Lá se foi o Dodete desligar a bomba e finalmente tomar seu banho.
- Ô Zuninho. Como é que faz para toma banho quente? A água tá fiia.
- Ah Dodete. É porque o fogão está sem fogo. Bota lenha que vai esquentar.
Disse isso e voltei para a área de serviço. Já tinha anoitecido. A casa estava escura e só a lâmpada perto da churrasqueira ligada.
- Fogo. O Dodete botou fogo na cozinha. Minha tia, vai me matar – gritou o Tiago.
Incêndio de novo não. Lá fui eu em busca do balde com água. Quando cheguei na porta da cozinha, o Dodete vinha saindo do banheiro:
- Ô Zuninho, deu certo não. Coloquei fogo no fogão e água tá fiia.
Quando olhei para o fogão, o Dodete tinha mesmo colocado fogo lá. Só que ao invés dele colocar fogo dentro do fogão, ele tinha pegado madeira compensada e colocado em cima da trempe. O fogaréu estava indo no teto.
- Meu feijão. Dodete, você é louco, o fogo é dentro do fogão, agora meu feijão deve ter queimado - reclamou o Aldair.
Colocamos a madeira pegando fogo no lugar certo, o Dodete finalmente tomou o banho e decidimos jantar.
Até hoje guardo na memória a cara de satisfação do Aldair quando ele comeu a primeira colher de feijão. Ele olhou para a gente, sorriu com os dentes todos pretos:
- Gente. Isso ficou bom demais.
E tinha ficado mesmo. Também um feijão cozido em mais de 12 horas não tinha como ficar ruim.
Pouco tempo depois já estávamos mais para lá do que para cá. Não sei por que, mas sempre que a turma está reunida em um sítio, rola algumas conversas sinistras de assombração. Naquele último sítio, com um quarto apelidado de “Morte do Demônio”, não foi diferente. Sentamos e começamos a falar bobagens sobre espíritos, assombração etc.
Àquela altura da noite, a gente já estava para lá de Marrakesh. O assunto foi ficando pesado..foi ficando pesado.... Ai o Dodete levantou, deu uma passada perto do toca-fitas. Abaixou um pouco o volume, passou pelo fogão. Sentou e disse:
- Eu queiia fala não. Mas alguém pegou uma fita e zugou no fogo ali.
Naquela época, fita cassete era algo caro. De verdade. Não era como hoje. Não tínhamos internet, gravávamos músicas ou de discos dos amigos, ou das rádios. Era uma aventura
- Minha fita do Bon Jovi. Eu te mato Dodete – berrou o Cabrito que era fã do Bon Jovi. Inclusive tinha um pôster no quarto dele, que ele insistia que era do irmão. (Risos. Ele vai me matar quando ler isto aqui).
O episódio foi até bom, para descontrair os ânimos e quebrar o clima tenso. Mas assim que apartamos a briga o assunto dos espíritos voltou. O Bruno, que a essa altura já tinha virado monstro por causa do álcool, olhou fixamente para a janela e disse uma coisa que deixou todo mundo apavorado.....

Continua...

Feijão que não cozinha ou de como uma cachoeira só é bobagem





Depois que eu cheguei claudicando (novidade) na área de serviço, com um balde na mão para apagar o incêndio, descobri que o fumaceiro todo no sítio da tia do Tiaguinho era nada mais nada menos que um dos meninos tentando acender a
churrasqueira.
O lugar estava empesteado de fumaça. Lá na cozinha, o Aldair teimava em cozinhar feijão preto, que até aquela hora, quase uma hora e meia depois de acendermos o fogão a lenha, estava apenas enrugadinho e duro como um porrete. O Aldair jurava a nós que seu método de cozinhar feijão iria dar certo. Era só esperar ferver que ele colocava água fria. Bom, até aquele momento, não sei quantas águas depois, feijão cozido negas de catiribecas.
O fogo ardia na churrasqueira, as panelas queimando no fogão e a gente ali. Eu com o joelho dolorido, depois que o Fabrício tinha me derrubado na pinguela, e mais verde (por causa d'água com lodo) do que o incrível Hulk. O resto da galera se
divertindo.
Resolvemos colocar a carne naquele misto de fumaça, fogo e nada de brasa, que chamávamos de churrasqueira. Menos de meia hora depois o almoço estava servido. Arroz, salada de tomate com alface e carne esturricada por fora e nem um pouco assada por dentro.
A cada dentada no pedaço de contra-filé a gente ouvia:
- Muuuuuuu – de tão crua que a carne estava.
O feijão do Aldair? Bem o feijão do Aldair estava lá naquela panela de ferro com PH. Cozido? Ahhh gente! As casquinhas ainda nem tinham começado a amolecer.
O dia tinha começado cedo e não eram nem três horas da tarde. Já percebeu como dia passa lento na roça? Meia hora parece uma eternidade.
Depois do almoço ficamos ali, na lombeira. Para quem leu Monteiro Lobato, sabe que nestas horas é que se costuma ver Sacis. Eu não duvidei que a qualquer momento o perneta aparecesse.
Naquele fim de mundo, com o sol escaldante, naquela hora, era perigoso vir o Saci, a Mula sem cabeça e por aí vai. Mas o negrinho não veio e ficamos ali de bobeira. Meia hora depois o Tiago diz:
- Vamos lá cachoeira?
Para quem acompanha esta história sabe que o Tiago tinha nos prometido várias cachoeiras, mas tinha nos prometido também que o sítio ficava a apenas 15 minutos de caminhada. Chegamos ao local, depois de passar seis porteiras e quase
duas horas e meia depois.
Só o anúncio da cachoeira me causava frio nos ossos. Não por causa da água. Mas pela caminhada. Temia, de novo, ficar caminhando pela estrada infinita.
Arrumamos nossas coisas e partimos. O Aldair deixou o feijão preto no fogo. Segundo o Tiago, a cachoeira era perto e como no fogão a lenha só havia brasas, não precisaria voltar com freqüência, para coloca água no feijão é claro.
Caminhamos por outra estrada durante uns quinze minutos, quando o Tiago disse:
- Chegamos.
- Chegamos onde? – perguntei eu.
Para cima era só pasto, para baixo, só pasto. Uns 300 metros abaixo uma mata fechada.
- É ali embaixo. A cachoeira fica depois da mata.
Sinceramente. Minha vontade foi de chorar. Já tinha pensado que ficaria sem comida, corrido atrás de charrete, sido derrubado em uma água fétida, almoçado carne crua e o gente boa (tá bom, ele é gente boa sim, aliás da melhor qualidade)
do Tiago, me mostra uma mata cerrada e diz que a cachoeira prometida era ali?! Bom estava ferrado mesmo, melhor descer.
Começamos a descer o pasto, com mato na canela. Na verdade, a mata não era tão densa quanto aparentava. Logo depois das primeiras árvores, aquele córrego que passava no fundo da casa do sítio se transformava em um pequeno riacho e havia muitas pedras. Realmente ali havia uma cachoeira com um poço.
- Viu, falei com vocês que valia a pena – disse o Tiago vitorioso.
Realmente o lugar era bonito. Mas, sempre tem um mas, ensombreado por completo. O Bruno, o mais forte, se aventurou por entre as pedras cobertas de lodo, chegou a beira do poço e ploft, mergulhou. Subiu já com uma redoma de gelo em volta, igual aos desenhos animados:
- Pus pariu Tiago. Essa água ta mais gelada que a da geladeira.
Era verdade. Com a sombra e as pedras e como desde Adão e Eva apenas Judas tinha passado por lá, a água corria na sombra, entre pedras e debaixo das árvores, isso a tornava mais que gelada. Aquilo, a cada mergulho fazia o pintinho da gente se encolher cada vez mais.
Para não enfrentar o lodo das pedras e não cair, dei a volta no mato. Pisei em uma folha de coqueiro cheia de espinhos e fui limpar o sangue na água gelada.
Ficamos dez minutos ali e o Tiago disse que mais para frente tinha outra queda d'água, mas era só uma queda sem poço.
Decidimos ir para lá. Na subida, o Samir ainda viu uma jibóia engolindo um sapo.
Chegamos na tal queda d'água. Na verdade, era um paredão rochoso. Tínhamos que saltar vários vãos de pedra. Tínhamos não, eles tinham. Porque eu não conseguiria saltar aquilo nem se nascesse de novo. Fiquei no topo mesmo, longe dos meus amigos, mas me divertindo em um pocinho formado logo no início do paredão.
Aquela queda era melhor. Tinha sol, a água corria entre as pedras. Ficar ali era bom. Quase uma hora depois que chegamos, o Aldair grita:
- Gente, meu feijão.
E lá se foi ele correndo rumo a casa para colocar água no feijão. Quando voltou o sol já tinha ido embora perguntamos:
- E aí? Já cozinhou?
- Não ainda não, mas vai ficar bom.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

E no início era um incêndio

Depois de andar quase uma hora de ônibus e por mais de duas horas a pé finalmente chegamos ao tão sonhado sítio.
Não esperávamos nada demais, afinal o sítio da tia do Tiaguinho era o último do último do Córrego do Soldado. Tanto que logo na entrada, havia um par de botas deixadas por Judas quando ele passou por lá.
Ficamos alguns minutos contemplando a casa. Um curral na frente, duas janelas, um corregozinho correndo a esquerda com uma pinguela para se atravessar.
Eu, cansado depois de correr atrás de uma charrete que não me levou a lugar nenhum e depois de litros de Coca-cola quente, que me fervilhavam o intestino até àquela hora da manhã, achei o lugar um palácio, pelo menos por fora. Subimos todos a pequena escada. Éramos uns 12 naquele sábado, o resto do pessoal viria no domingo pela manhã.
Junto conosco, carne, bebidas, arroz, que o Aldair não esqueceu e outras bugigangas. Todos famintos, por comida, bebida e principalmente diversão. O Tiago tinha nos prometido várias cachoeiras. Mas, sempre tem um mas, depois dos 15 minutos de caminhada que se estenderam por mais de 2 horas, já desconfiávamos da veracidade da queda d’agua.
Ao abrir a porta, ela fez um inhec. Sinal que ela abria poucas vezes durante o ano.
- Putz, pensei. Agora só falta eu, nessa canseira, ter que arrumar essa casa.
Para o meu espanto o lugar, por dentro, era ainda maior e estava lim-po. A tia do Tiago tinha pedido a não sei quem para limpar a casa.
Assim que entramos, percebemos uma pequena salinha, dois quartos. O da esquerda já descartamos logo de cara. Credo! O quarto tinha só uma cadeira. Nada de móveis. Parecia aqueles quartos de filme de terror dos anos 80.
Aliás, no meu pensamento a qualquer hora o Jason, da série “Sexta-feira 13”, apareceria com a moto serra. Sorte que não havia lago.
Logo depois uma copa, com um banheiro e mais dois quartos. Desta vez grandes, um com uma cama de casal e outro com beliches. Depois uma cozinha, não me lembro se tinha despensa. Uma área de serviço e acabava-se a casa. Aconchegante até. Tipo aquelas casas de fazenda antiga com assoalho.
Fomos logo deixando as coisas e tratando de nos acomodar. Era confuso demais. Cada um querendo a melhor cama. Por fim, já cansados e com fome nos dividimos.
A primeira coisa que tratamos de fazer foi o almoço. Na verdade, a primeira coisa foi ligar a porcaria da bomba d’agua para encher a caixa. Pior que a bomba ficava longe da casa, só para variar. Dividimos as tarefas. Enquanto alguns varriam a casa, outros tratavam de preparar o almoço, ligar o som, acender a churrasqueira. Colocar a bebida para gelar e assim por diante.
O Júlio, o Tiago e o Aldair ficaram com o almoço. Era engraçado demais ver o Tiaguinho com um pano de prato no ombro, pedindo para a gente não quebrar nada, tomar cuidado com isso, com aquilo, com aquilo outro.
Para delírio do Aldair, ele achou um pacote de feijão preto.
- Ai que delícia, vamos cozinhar feijão.
- Aldair, não tem panela de pressão. Onde você vai cozinhar isso.
- A gente coloca um tanto d’agua numa panela, quando ferver coloca mais água e assim ele vai cozinhando.
Preciso dizer que se você, caro leitor, acha que o fogão era a gás, esqueça. Era a lenha. Que se você acha que as panelas eram limpas e de alumínio. Esqueça mais ainda. A panela que o Aldair colocou o feijão era de ferro. Da época em que o ferro ainda era escrito com PH. Se é que um dia foi assim.
A panela de arroz era de barro, pelo menos um dia foi. Enquanto os nossos cozinheiros se desdobravam na cozinha, nós investigávamos o lugar, menos o quarto apelidado “morte do demônio”, outra alusão a um filme de terror dos anos 80.
A casa era de assoalho, por baixo havia uma espécie de porão. Pelas gretas era possível ver que ele estava abandonado há décadas.
Descobrimos que eles não colocavam punhados de veneno para ratos. Eles rasgavam a caixa inteira. Imagina quantos roedores existiam ali.
Quando saímos para o quintal, o Tiaguinho gritou:
- Não vão perto do silo não, porque lá tem muita cascavel, por causa dos ratos.
A pinguela que tinha visto na chegada era um tronco de coqueiro caído no leito do córrego, com um bambu atravessado servindo de corrimão.
A casa, que antes era morta, com nossa presença pareceu criar vida. Depois de atravessarmos a ponte improvisada, para chegar onde o córrego era mais fundo, descobrimos um poço. Àquela hora, naquele calor, decidimos mergulhar ali mesmo.
Não lembro quem foi o primeiro, só me lembro de vários terem pulado do barranco, de bomba, o primeiro que levantou foi o Dodete:
- Credo é puro barro este fundo.
Saímos todos lá de dentro, meio homem, meio barro. Minutos depois secando ao sol, a profecia tinha se cumprido, voltamos ao pó.
Ficamos brincando naquela água, quando de repente alguém gritou:
- A casa está pegando fogo.
Quando olhei, existia fumaça demais na casa. Só podia ser um incêndio mesmo. A fumaça vinha da área de serviço. Sabia que cozinhar no fogão a lenha não ia dar certo. Corremos todos. Eu, para variar fiquei para trás. Quando fui passar pela pinguela, ela já estava toda molhada, enlameada. Com cuidado fui passo a passo pelo coqueiro.
O Fabrício, vendo meu temor, voltou. E com um sorriso sarcástico no rosto, balançou o corrimão improvisado. Resultado: cai naquela água esverdeada.
Cheguei por último na casa, aproveitei que era o último a chegar e ainda peguei um balde d’agua em um cocho, para apagar o possível incêndio.
Ao chegar lá, percebi que o fogo era na verdade alguém tentando acender a churrasqueira.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Corrida contra a charrete e salto em altura, ou de como novecentos segundos no relógio dos outros pode não ser resfresco

Depois que o ônibus nos deixou na empoeirada estrada do Córrego do Soldado, o Tiaguinho, até então anfitrião da aventura, nos disse que eram apenas 15 minutos de caminhada até o sítio.
Pegamos nossos apetrechos e começamos a caminhar. Cada um ficou com uma coisa e depois do “incidente” envolvendo a Coca-cola eles não me deixaram carregar nada que pudesse quebrar, partir, estragar ou se perder se
viesse ao chão.
Coube a mim carregar parte da carne que assaríamos ainda aquela noite. Eram seis quilos de carne devidamente acondicionados em uma mochila jeans.
Como eu carregava a minha própria mochila, com roupas, toalha, um monte de badulaque inútil e mais o cobertor, a mochila com a carne ia no braço mesmo.
O dia estava bonito, o pasto verde, a estrada um pouco empoeirada, mas com o frescor da manhã uma caminhada de 15 minutos não seria de toda ruim.
Característica da adolescência, íamos na maior algazarra descendo e subindo morros, passando por algumas fazendas, conversando animadamente.
Já tínhamos caminhado os 15 minutos que o Tiaguinho tinha falado e para nós qualquer casa, casebre ou fazenda que aparecia na próxima esquina poderia ser o nosso sítio. A promessa de uma cachoeira nos alegrava.
Vinte minutos já tinham se passado e a gente ainda andando. A esta altura, o sol já começava a incomodar e os fardos que íamos carregando começavam a ficar pesados. Começamos a reclamar com o Tiago que, ironicamente, respondia que já estava chegando. Meia hora depois eu já estava com o braço doendo.
Seis quilos são poucos, mas quando se caminha levando uma mochila assim, ela começa a pesar. Debaixo de um sol forte então o peso triplica.
Já haviam se passado quarenta minutos que tínhamos deixado o ônibus para trás e já estávamos querendo matar o Tiaguinho e os seus malditos 15 minutos.
- Quinze minutos de moto, você quis dizer né?!
- De moto não, de avião. Ô Tiago, cadê a porcaria do sítio? – reclamávamos de tempos em tempos.
Depois de uma hora de caminhada eu já estava querendo trucidar o idiota que tinha sugerido para eu levar a carne. O céu sem nuvens e o sol forte tornavam a viagem mais cansativa. O meu consolo era que a carne pelo menos estava meio congelada e para espantar o calor era só eu a manter perto do corpo. A minha situação também não era a pior. O Juninho Cabeça levava um colchão pesado, destes que nem dá para enrolar direito, e já estava querendo o deixar na estrada e pegar na volta quando o Tiago anunciou que teríamos que tomar um atalho.
Numa curva da estrada, entramos pela mata adentro. O local era mais agradável que a estrada poeirenta, mas nossa alegria durou pouco, rapidamente nos encontramos novamente na estrada.
Depois de dez minutos que saímos do “atalho” comecei a ficar para trás de cansaço. A carne começou a descongelar, meus músculos já doíam e não tinha nem mais força para xingar o Tiago.
Fui ficando para trás e o pessoal também ia calado, com o rosto suado, com raiva e com cansaço. Num determinado
momento, em um vale, percebi que lá no alto do morro, vinha uma nuvem de poeira. Pensei:
- Oba um carro ou um caminhão. Vou ficar para trás porque aí eu peço carona.
Imaginava eu que nenhum motorista de bom coração iria me deixaria na estrada, mas se tivesse com a turma ele poderia passar direto.
Diminui o passo, fiz cara de mais moribundo do que realmente estava e percebi a aproximação da nuvem de poeira.
Mas, sempre tem um mas, para minha tristeza não era um carro ou caminhão, era uma charrete puxada por um pangaré. Na minha condição aquilo era uma carruagem:
- Dia. O sinhô me dá uma caroninha? – disse eu utilizando o idioma local.
- Pode subir – respondeu o condutor da charrete.
Mas ele não parou a charrete. O cavalinho continuou o seu trote e mesmo com as duas mochilas e apesar do cansaço, tive que correr um pouco para jogar a mochila com a carne dentro da charrete. Corri mais um pouco e joguei a minha mochila e o cobertor. Livre da tralha ia ficar mais fácil de subir na charrete.
Não sei se foi o barulho das coisas caindo ou se a vingança do cavalo por carregar mais peso, a verdade é que o animal acelerou e a charrete se distanciava.
O jeito era correr e quando chegava perto, tentava subir e não conseguia. Ainda estava naquela peleja toda, quando a charrete e eu, correndo feito louco, tentando subir na danada, alcançamos os meus amigos.
Mais ágeis que eu eles subiram rapidinho e o espaço foi ficando pequeno. Nisto eu já estava com “os bofes” pulando para fora. O Cabeça já tinha jogado o colchão e se preparava para subir. Eu já tinha corrido uns 300 metros
e nada de subir na charrete. Foi quando reuni o resto das forças, desabalei numa corrida louca e pulei, de costas, como salto em altura e ploft: consegui cair dentro da charrete.
Ainda estava me recuperando da pancada nas costas e começando a me levantar quando senti o condutor virando o cabresto e saindo da estrada
principal.
A manobra veio seguida de um “ÔOOOOOOAAAAAAA” e a charrete parou.
- Agora “ôces” pode “apiá”, porque eu vou parar aqui - disse o condutor.
A minha vontade era de chorar. O resto das minhas forças tinha ficado naquela charrete. Os quase 300 metros percorridos tinham me exaurido mas, sempre tem um mas, ao voltarmos para a estrada o Tiaguinho ainda chutou o cachorro morto:
- Preocupa não gente. Agora a gente só tem que passar seis porteiras. Garanto que são só mais 15 minutinhos.
Quase duas horas depois dos 15 minutos iniciais chegamos ao sítio, mas isso é outra história......



Refrigerante de desjejum... ou de como Coca quente derrete até bigode

Há um tempo, numa galáxia muito, muito distante decidimos ir para um sítio. A tia do meu amigo Tiago Quites, hoje no Rio de Janeiro, emprestou o sítio para gente passar o final de semana. Juntamos o
pessoal do teatro, fizemos as compras e na sexta-feira grande parte da “Turma dos Minitão” dormiu lá em casa, pois no sábado pela manhã sairíamos de madrugada para pegar o ônibus.
Acordamos muito cedo, porque o Coletivo saia antes das seis horas e
como o ponto era longe de casa tínhamos que nos apressar.
Ainda de madrugada um grupo com colchões, mochilas, cobertores, material de limpeza, bebidas, comidas e muita animação deslizava pelo bairro de Lourdes rumo ao Centro.
Coube a mim carregar os refrigerantes. Não sei quantas garrafas pets
eram, mas o negócio pesava “pra caramba”.
Íamos rapidamente, porque senão perderíamos o único ônibus que saia pela manhã e então só teria outro no começo da noite. Com o balançar e a correria, uma das sacolas que eu carregava acabou arrebentando e vários pets rolaram pelo asfalto.
Uma garrafa de Coca-Cola estourou. Muito sacanas, os meus amigos
me obrigaram a beber o refrigerante que sobrou.
- Vai beber! Deixamos de comprar um monte de coisa para comprar
este refrigerante. Não pode desperdiçar mais não – diziam eles.
Ainda tentei argumentar que não eram nem seis horas e que a Coca
estava quente. Mas não teve jeito, tive que beber o resto do líquido
escuro, quente e cheio de gás.
Chegamos ao ponto e ainda bem que o ônibus estava lá. Entramos,
mas ao sentar nos bancos notamos que o Aldair ainda não tinha chegado.O hoje Padre Aldair ficou de trazer os 5 kg de arroz e sem eles com certeza o que tínhamos não daria nem para o começo.
O motorista ligou o ônibus e nós desesperados. O motorista esquentando o motor e nada do Aldair chegar. O motorista ajustando os retrovisores e nada do Aldair. O motorista então sentou no seu banco, fechou as portas, engatou a primeira e começou a arrancar, mas, sempre tem um mas, ainda deu tempo dele olhar pelo retrovisor e ver alguém correndo de mochila, um cobertor vermelho, qual super herói, e um saco de arroz nas mãos gritando “Espera...espera”. Finalmente o pão, quer dizer o arroz, estava garantido.
O ônibus arrancou, foi passando nos pontos e gente entrando. Na
verdade era um desses coletivos, de janelas apenas na parte de cima e que carregam todo tipo de coisa e gente.
Saímos da cidade com o povo entulhado até o teto. Entramos em uma estrada poeirenta e o “buzão” sacolejando.
Íamos animados com a viagem, mas depois de uns dez minutos aquele sacoleja-sacoleja começou a me incomodar.
Os “quase um litro” de Coca quente que eu havia tomado começaram
a fazer efeito e o intestino começou num ronca-ronca sem piedade. Eu, internamente, conversava com ele:
- Não faz isso comigo. O ônibus está cheio. Aguenta as pontas.
Mas ele respondia cheio de mágoas. E depois de um mata-burro não
me agüentei e soltei um “pumzinho”.
Na verdade não foi um pumzinho, foi uma podridão imensa ainda
que silenciosa. Descobri neste dia que Coca realmente limpa pia, porque o negócio foi subindo pelo meu corpo queimando feito louco.
Quando chegou ao nariz, achei que havia um bicho morto dentro de mim.
Mantive a pose como se não fosse comigo, mas o Júlio Santos, que
estava ao meu lado, praticamente me denunciou. Ele arregalou os olhos e imediatamente se levantou para respirar o ar cheio de poeira vindo da janela, que só ficava na parte de cima.
Enquanto isto, o gás mortífero se espalhava pelo Coletivo, para que
coletivamente todos pudessem sentir o cheiro da morte.
Meus amigos começaram a reclamar e era tanto “Nuuuuuuu”, “Pelo
amor de Deus”, “Abre logo as janelas”, “Tem um urubu, morto aqui” que a cena ficou hilária.
O fedor se espalhou tanto que lá da frente o motorista gritou:
- O @#@$#$%$#@@$ que fez isso não tem mãe não!
- Mãe ele tem. Porque se não tivesse não estaria fazendo essa porcaria aqui. – respondeu o trocador.
As galinhas que eram carregadas em sacos de linhagem começaram
a desfalecer e até um leitãozinho, que cuidadosamente era levado em
uma caixeta de papelão, começou a se movimentar lá dentro. Todo
serelepe, achando que já tinha chegado em casa.
Nisto todos os narizes estavam devidamente tampados e nós rindo
horrores, porque é claro que o autor era um de nós. As mulheres abanavam as saias tentando ventilar o fedor e um senhor de chapéu largo, bigode grande era o único que insistia em não tapar as narinas. Eu olhava para ele com muita pena, porque os olhos dele estavam vermelhos pelo cheiro, lacrimejando pelo gás mortífero.
- Esses meninos acham que a gente da roça é porco. Eles é que não
têm educação.
Educação eu tenho e também acho que tem local certo para essas
coisas . Mas, sempre tem um mas, infelizmente aquilo foi uma coisa natural, ou ele saia ou eu corria o risco de ser incinerado de dentro para fora.
Depois de um tempo o fedor se dissipou e viagem continuou sem
maiores complicações. A não ser pelo fato do Júlio cheirar toda hora a
roupa:
- Credo! Esse cheiro grudou em mim. Quando chegar lá terei que jogar essa roupa fora.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Eu: a mulher mais feia do carnaval

Ah, o Carnaval! Descobri o prazer da folia de Momo muito cedo. Peguei ainda um pouco da época em que as pessoas se acotovelavam na Rua Silva Jardim ou enchiam as pernas e a poupança de farpas nas arquibancadas construídas na Praça da Matriz só para ver as escolas de samba.
Pouco tempo depois a folia foi para Avenida Jove Soares e
com ela as “sedes” de turmas, o carnaval na antiga Kibel, as blusas de turmas.
Vi Daniele Winits, jurada do carnaval, de perto, enganei os porteiros das arquibancadas pagas e entrei escondido no local, vi a primeira mulher de seios de fora desfilar em Itaúna.
Histórias de carnaval? Sim, tenho muitas. Mas as melhores, com certeza, aconteceram na quinta-feira, no bloco Pau de Gaiola.
Sou da época em que íamos para a Praça da lagoinha ao meio-dia e só porque estamos vestidos de mulher ganhávamos cerveja. Folia descompromissada, tipicamente da juventude.
Pois foi numa dessas noites que eu fui escolhido a “mulher mais feia do carnaval” – a rainha do pau de gaiola.
Num ano qualquer, nos preparamos na casa da minha mãe. Éramos um monte, difícil de contar, mas sempre unidos.
Enfiei-me num vestido azul de bolinhas brancas, passei batom rosa coloquei um lenço na cabeça e uma estratégica bolsa de crochê de lado, utilizada para guardar um short e uma camisa.
Como morava longe não dava para voltar para casa e trocar de roupa, depois que o desfile acabasse. Não é que eu fiquei feio. Eu fiquei horroroso, ou melhor, horrorosa. Os outros se fantasiaram e lá fomos nós, do bairro de Lourdes a Praça da Lagoinha.
Bebida vai, bebida vem, dancinhas ensaiadas, passos desconcertados e a noite rendendo. Lá pelas tantas, um sujeito cisma comigo e começa a querer brigar. Sempre fomos e seremos da paz, mas é que o cara encheu tanto o saco que eu acabei mandando ele para aquele lugar. Ele partiu para cima de mim como um trator. Mas “safo” como sempre fui, sai de fininho e entrei no banheiro do Sandoval.
Do alto da minha tontura de três latinhas de cerveja, olhava para o meu quase agressor e tentava achar uma “arma”, algo que eu pudesse me defender.
Em um banheiro? Bem, era meio difícil, mas, sempre tem mas, não é que eu encontrei?!.
Encontrei um rolo de papel higiênico pela metade e um desentupidor de vaso. Mas não era um desentupidor de vaso qualquer, era um mega desentupidor.
De escudo e espada na mão sai do banheiro me borrando, mas firme no vestidinho azul. Passei ao lado do meu quase agressor e ele não falou nada, era sinal que nossa guerra havia acabado.
Aquilo para mim já seria a glória, mas não é que quando eu saio o locutor anunciava o início do desfile para escolher a mulher mais feia do carnaval?!
Quando eu dei por mim estava no meio da passarela e alá
Gisele Bündchen, com um desentupidor de um lado e papel higiênico do outro, fui e voltei na passarela. Depois de mim vieram dezenas de “delicadas” senhoras.
Ao final das apresentações o locutor anunciou: “a mulher mais feia do carnaval e rainha do Pau de Gaiola é... (suspense) a primeira que desfilou”
Sabe que a ficha não caiu direto?! Fiquei ainda pensando:
“Quem será essa?” Mas logo me lembrei que era eu mesmo e sai como um louco em busca do meu prêmio: uma caixa de cerveja em lata.
Do prêmio só me lembro de não ter ficado com nada, porque os meus amigos rasgaram o fardo e roubaram todas as latinhas.
Tive a honra de desfilar com estandarte “desentupidor de vaso” na mão e ser a mulher mais feia do carnaval.


Eu, a mulher mais feia, Samir Antunes e Douglas Silva

Bidu: a reencarnação de Marley

Sinceramente. John Grogan não tinha razão ao dizer que seu cão Marley era o pior cão do mundo. Existem centenas de caninos muito piores, mas a grande sacada do jornalista foi transformar o cão em livro.
Qualquer crônica canina depois de “Marley e eu” vai parecer plágio. Mas eu não me importo com rótulos e abro mão da minha autenticidade para falar, do verdadeiro pior, melhor cão do mundo.
Quando decidimos adotar o Bidu, um vira-lata, que na época era pouco maior que um hamster, não sabíamos as dores de cabeças, risadas e comprimidos de Lexotan que teríamos que tomar por causa daquele biduzinho perdido na rua.
O Bidu é daqueles cachorros desesperados. Que sai batendo o rabo em tudo e come qualquer coisa, até bucha de lavar vasilhas. Quando ele era pequeno, entrava no saco de ração e comia, comia, aí dormia e quando acordava voltava a comer.
E isso praticamente de meia em meia hora. O fato de ter sido um menino de rua pode ter contribuído para sua fome eterna, mas o que mais nos chateia é a semvegonhice desse vira-lata.
Minha irmã costuma dizer que Deus é muito sábio. Pois se o cão dela, um dog alemão de mais de metro tivesse a mesma personalidade do Bidu ela não teria mais casa.
O nosso vira-lata, hoje pouco maior do que um Basset, mas com a força de um Pitbull, consegue ser infinitamente pior do que o cão de Grogan.
Como este espaço é pequeno e as peripécias do Bidu são muitas vou contar aqui apenas o episódio que mais me constrangeu.
Um dia, eu estava saindo de casa, quando percebi que uma moça vinha em minha direção com seus dois poodles. As bolas de pêlo pareciam cachorros de cinema e saídos do pet shop de tão branquinhos que estavam. Quando vi aquela cena pensei:
- Vou fechar o portão porque senão o Bidu vai aprontar. Mas, sempre tem um mas, o Bidu, além de bagunceiro, também lê pensamentos. Assim que comecei a fechar o portão o danadinho conseguiu sair por uma pequena fresta que hoje não passa nem calango.
Ele correu para os poodles e os três ficaram se encarando. Um estudando o outro, como boxeadores antes da luta. No fundo, eu sabia que não ia ter briga, porque apesar de tudo, o Bidu é um cachorro da paz, mas vai explicar isso para a dona dos cães, que a essa altura do campeonato já estava com os olhos marejados d’água e pedindo pelo amor de Deus para eu ajudar.
Chamei e nada do Bidu voltar. Como um Mike Tyson dos cães o Bidu continuava encarando seus adversários. Ai comecei a ficar preocupado, porque imagina se ele dá um jumper ou cruzado de focinho esquerdo nos cachorrinhos da menina. Ia ser uma tosa desleal.
Corri ao encontro do ringue armado no meio da rua e da menina prestes a desmaiar com medo dos seus poodles virarem pompons da torcida azul celeste rosa bebê. Tentei ainda espantar o Bidu, mas ele parecia hipnotizado pelas bolas de pêlos branquinhas.
Não havia outra saída a não ser pegar o Bidu no colo e levá-lo de volta para casa. Foi o que eu fiz. Mas já disse aqui: o Bidu lê pensamentos. Não é que no momento exato que me abaixei e comecei a suspendê-lo, ele, vendo que não havia alternativa, simplesmente para sair como machão da história, levantou a perna e fez xixi nos poodles.
Eu preferia ter apartado uma briga feia a ver a cara de nojo da dona dos cachorrinhos. Aqueles olhos que estavam marejados de medo agora refletiam um misto de cólera e ânsia e as lágrimas que rolaram não foram de alívio.
Como eu não tinha mais o que fazer virei as costas e fui embora com o Bidu olhando para mim com aquela cara de satisfação.
A menina, bem, a menina também foi embora com seus poodles branquinhos. Agora com uma faixa amarela nas costas.


Bidu no seu esporte preferido

sábado, 15 de janeiro de 2011

No início era o verbo....

Tenho os sapatos escritos. Nunca tinha percebido isso, mas é verdade. As palavras estão em mim em todos os lugares, inclusive em meus sapatos.
Tenho os sapatos escritos. Tenho o coração calejado pela emoção, e na cabeça um monte de tempestades que às vezes se transformam em ideias. E tenho nas palavras uma coleção de incontáveis histórias.
Um dia alguém notou que os meus sapatos eram escritos e gostou das histórias que eles contavam. Essa mesma pessoa me questionou porque eu não as tornava públicas.
Apesar de ser jornalista e ter entrado na profissão por causa de boas histórias nunca tinha imaginado isso. Afinal as narrativas dos outros são sempre melhores do que as minhas.
Escrever é sempre tentar fotografar com palavras o que queremos dizer. Escrever o que pensamos é sempre transformar em cor algo que é cinza, ou transformar em cinza algo que está em plena escuridão.
Fotografar o mundo com minhas palavras e, às vezes, escrever o que fotografo, sempre foi uma de minhas paixões. E é sobre as coisas do cotidiano e as histórias que contam os meus sapatos escritos que vou escrever para vocês. Mesmo que rebuscando nas minhas velhas lentes para ilustrar uma imagem mil vezes fotografada, dita e redita várias vezes, eu e os meus sapatos vamos levar até vocês histórias da atualidade, críticas sociais, histórias reais ou inventadas.
Às vezes fotografando com metáforas, às vezes escrevendo embaçado, com as lentes marcadas pelas digitais da razão e emoção, eu e os meus sapatos escritos vamos tentar trazer para este espaço a sensibilidade e a clareza das coisas que nem sempre no nosso dia a dia somos capazes de enxergar.
Uma boa leitura para vocês e uma boa caminhada mais colorida a partir de agora