terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Eu: a mulher mais feia do carnaval

Ah, o Carnaval! Descobri o prazer da folia de Momo muito cedo. Peguei ainda um pouco da época em que as pessoas se acotovelavam na Rua Silva Jardim ou enchiam as pernas e a poupança de farpas nas arquibancadas construídas na Praça da Matriz só para ver as escolas de samba.
Pouco tempo depois a folia foi para Avenida Jove Soares e
com ela as “sedes” de turmas, o carnaval na antiga Kibel, as blusas de turmas.
Vi Daniele Winits, jurada do carnaval, de perto, enganei os porteiros das arquibancadas pagas e entrei escondido no local, vi a primeira mulher de seios de fora desfilar em Itaúna.
Histórias de carnaval? Sim, tenho muitas. Mas as melhores, com certeza, aconteceram na quinta-feira, no bloco Pau de Gaiola.
Sou da época em que íamos para a Praça da lagoinha ao meio-dia e só porque estamos vestidos de mulher ganhávamos cerveja. Folia descompromissada, tipicamente da juventude.
Pois foi numa dessas noites que eu fui escolhido a “mulher mais feia do carnaval” – a rainha do pau de gaiola.
Num ano qualquer, nos preparamos na casa da minha mãe. Éramos um monte, difícil de contar, mas sempre unidos.
Enfiei-me num vestido azul de bolinhas brancas, passei batom rosa coloquei um lenço na cabeça e uma estratégica bolsa de crochê de lado, utilizada para guardar um short e uma camisa.
Como morava longe não dava para voltar para casa e trocar de roupa, depois que o desfile acabasse. Não é que eu fiquei feio. Eu fiquei horroroso, ou melhor, horrorosa. Os outros se fantasiaram e lá fomos nós, do bairro de Lourdes a Praça da Lagoinha.
Bebida vai, bebida vem, dancinhas ensaiadas, passos desconcertados e a noite rendendo. Lá pelas tantas, um sujeito cisma comigo e começa a querer brigar. Sempre fomos e seremos da paz, mas é que o cara encheu tanto o saco que eu acabei mandando ele para aquele lugar. Ele partiu para cima de mim como um trator. Mas “safo” como sempre fui, sai de fininho e entrei no banheiro do Sandoval.
Do alto da minha tontura de três latinhas de cerveja, olhava para o meu quase agressor e tentava achar uma “arma”, algo que eu pudesse me defender.
Em um banheiro? Bem, era meio difícil, mas, sempre tem mas, não é que eu encontrei?!.
Encontrei um rolo de papel higiênico pela metade e um desentupidor de vaso. Mas não era um desentupidor de vaso qualquer, era um mega desentupidor.
De escudo e espada na mão sai do banheiro me borrando, mas firme no vestidinho azul. Passei ao lado do meu quase agressor e ele não falou nada, era sinal que nossa guerra havia acabado.
Aquilo para mim já seria a glória, mas não é que quando eu saio o locutor anunciava o início do desfile para escolher a mulher mais feia do carnaval?!
Quando eu dei por mim estava no meio da passarela e alá
Gisele Bündchen, com um desentupidor de um lado e papel higiênico do outro, fui e voltei na passarela. Depois de mim vieram dezenas de “delicadas” senhoras.
Ao final das apresentações o locutor anunciou: “a mulher mais feia do carnaval e rainha do Pau de Gaiola é... (suspense) a primeira que desfilou”
Sabe que a ficha não caiu direto?! Fiquei ainda pensando:
“Quem será essa?” Mas logo me lembrei que era eu mesmo e sai como um louco em busca do meu prêmio: uma caixa de cerveja em lata.
Do prêmio só me lembro de não ter ficado com nada, porque os meus amigos rasgaram o fardo e roubaram todas as latinhas.
Tive a honra de desfilar com estandarte “desentupidor de vaso” na mão e ser a mulher mais feia do carnaval.

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