Sinceramente. John Grogan não tinha razão ao dizer que seu cão Marley era o pior cão do mundo. Existem centenas de caninos muito piores, mas a grande sacada do jornalista foi transformar o cão em livro.
Qualquer crônica canina depois de “Marley e eu” vai parecer plágio. Mas eu não me importo com rótulos e abro mão da minha autenticidade para falar, do verdadeiro pior, melhor cão do mundo.
Quando decidimos adotar o Bidu, um vira-lata, que na época era pouco maior que um hamster, não sabíamos as dores de cabeças, risadas e comprimidos de Lexotan que teríamos que tomar por causa daquele biduzinho perdido na rua.
O Bidu é daqueles cachorros desesperados. Que sai batendo o rabo em tudo e come qualquer coisa, até bucha de lavar vasilhas. Quando ele era pequeno, entrava no saco de ração e comia, comia, aí dormia e quando acordava voltava a comer.
E isso praticamente de meia em meia hora. O fato de ter sido um menino de rua pode ter contribuído para sua fome eterna, mas o que mais nos chateia é a semvegonhice desse vira-lata.
Minha irmã costuma dizer que Deus é muito sábio. Pois se o cão dela, um dog alemão de mais de metro tivesse a mesma personalidade do Bidu ela não teria mais casa.
O nosso vira-lata, hoje pouco maior do que um Basset, mas com a força de um Pitbull, consegue ser infinitamente pior do que o cão de Grogan.
Como este espaço é pequeno e as peripécias do Bidu são muitas vou contar aqui apenas o episódio que mais me constrangeu.
Um dia, eu estava saindo de casa, quando percebi que uma moça vinha em minha direção com seus dois poodles. As bolas de pêlo pareciam cachorros de cinema e saídos do pet shop de tão branquinhos que estavam. Quando vi aquela cena pensei:
- Vou fechar o portão porque senão o Bidu vai aprontar. Mas, sempre tem um mas, o Bidu, além de bagunceiro, também lê pensamentos. Assim que comecei a fechar o portão o danadinho conseguiu sair por uma pequena fresta que hoje não passa nem calango.
Ele correu para os poodles e os três ficaram se encarando. Um estudando o outro, como boxeadores antes da luta. No fundo, eu sabia que não ia ter briga, porque apesar de tudo, o Bidu é um cachorro da paz, mas vai explicar isso para a dona dos cães, que a essa altura do campeonato já estava com os olhos marejados d’água e pedindo pelo amor de Deus para eu ajudar.
Chamei e nada do Bidu voltar. Como um Mike Tyson dos cães o Bidu continuava encarando seus adversários. Ai comecei a ficar preocupado, porque imagina se ele dá um jumper ou cruzado de focinho esquerdo nos cachorrinhos da menina. Ia ser uma tosa desleal.
Corri ao encontro do ringue armado no meio da rua e da menina prestes a desmaiar com medo dos seus poodles virarem pompons da torcida azul celeste rosa bebê. Tentei ainda espantar o Bidu, mas ele parecia hipnotizado pelas bolas de pêlos branquinhas.
Não havia outra saída a não ser pegar o Bidu no colo e levá-lo de volta para casa. Foi o que eu fiz. Mas já disse aqui: o Bidu lê pensamentos. Não é que no momento exato que me abaixei e comecei a suspendê-lo, ele, vendo que não havia alternativa, simplesmente para sair como machão da história, levantou a perna e fez xixi nos poodles.
Eu preferia ter apartado uma briga feia a ver a cara de nojo da dona dos cachorrinhos. Aqueles olhos que estavam marejados de medo agora refletiam um misto de cólera e ânsia e as lágrimas que rolaram não foram de alívio.
Como eu não tinha mais o que fazer virei as costas e fui embora com o Bidu olhando para mim com aquela cara de satisfação.
A menina, bem, a menina também foi embora com seus poodles branquinhos. Agora com uma faixa amarela nas costas.
Bidu no seu esporte preferido
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
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