Há um tempo, numa galáxia muito, muito distante decidimos ir para um sítio. A tia do meu amigo Tiago Quites, hoje no Rio de Janeiro, emprestou o sítio para gente passar o final de semana. Juntamos o
pessoal do teatro, fizemos as compras e na sexta-feira grande parte da “Turma dos Minitão” dormiu lá em casa, pois no sábado pela manhã sairíamos de madrugada para pegar o ônibus.
Acordamos muito cedo, porque o Coletivo saia antes das seis horas e
como o ponto era longe de casa tínhamos que nos apressar.
Ainda de madrugada um grupo com colchões, mochilas, cobertores, material de limpeza, bebidas, comidas e muita animação deslizava pelo bairro de Lourdes rumo ao Centro.
Coube a mim carregar os refrigerantes. Não sei quantas garrafas pets
eram, mas o negócio pesava “pra caramba”.
Íamos rapidamente, porque senão perderíamos o único ônibus que saia pela manhã e então só teria outro no começo da noite. Com o balançar e a correria, uma das sacolas que eu carregava acabou arrebentando e vários pets rolaram pelo asfalto.
Uma garrafa de Coca-Cola estourou. Muito sacanas, os meus amigos
me obrigaram a beber o refrigerante que sobrou.
- Vai beber! Deixamos de comprar um monte de coisa para comprar
este refrigerante. Não pode desperdiçar mais não – diziam eles.
Ainda tentei argumentar que não eram nem seis horas e que a Coca
estava quente. Mas não teve jeito, tive que beber o resto do líquido
escuro, quente e cheio de gás.
Chegamos ao ponto e ainda bem que o ônibus estava lá. Entramos,
mas ao sentar nos bancos notamos que o Aldair ainda não tinha chegado.O hoje Padre Aldair ficou de trazer os 5 kg de arroz e sem eles com certeza o que tínhamos não daria nem para o começo.
O motorista ligou o ônibus e nós desesperados. O motorista esquentando o motor e nada do Aldair chegar. O motorista ajustando os retrovisores e nada do Aldair. O motorista então sentou no seu banco, fechou as portas, engatou a primeira e começou a arrancar, mas, sempre tem um mas, ainda deu tempo dele olhar pelo retrovisor e ver alguém correndo de mochila, um cobertor vermelho, qual super herói, e um saco de arroz nas mãos gritando “Espera...espera”. Finalmente o pão, quer dizer o arroz, estava garantido.
O ônibus arrancou, foi passando nos pontos e gente entrando. Na
verdade era um desses coletivos, de janelas apenas na parte de cima e que carregam todo tipo de coisa e gente.
Saímos da cidade com o povo entulhado até o teto. Entramos em uma estrada poeirenta e o “buzão” sacolejando.
Íamos animados com a viagem, mas depois de uns dez minutos aquele sacoleja-sacoleja começou a me incomodar.
Os “quase um litro” de Coca quente que eu havia tomado começaram
a fazer efeito e o intestino começou num ronca-ronca sem piedade. Eu, internamente, conversava com ele:
- Não faz isso comigo. O ônibus está cheio. Aguenta as pontas.
Mas ele respondia cheio de mágoas. E depois de um mata-burro não
me agüentei e soltei um “pumzinho”.
Na verdade não foi um pumzinho, foi uma podridão imensa ainda
que silenciosa. Descobri neste dia que Coca realmente limpa pia, porque o negócio foi subindo pelo meu corpo queimando feito louco.
Quando chegou ao nariz, achei que havia um bicho morto dentro de mim.
Mantive a pose como se não fosse comigo, mas o Júlio Santos, que
estava ao meu lado, praticamente me denunciou. Ele arregalou os olhos e imediatamente se levantou para respirar o ar cheio de poeira vindo da janela, que só ficava na parte de cima.
Enquanto isto, o gás mortífero se espalhava pelo Coletivo, para que
coletivamente todos pudessem sentir o cheiro da morte.
Meus amigos começaram a reclamar e era tanto “Nuuuuuuu”, “Pelo
amor de Deus”, “Abre logo as janelas”, “Tem um urubu, morto aqui” que a cena ficou hilária.
O fedor se espalhou tanto que lá da frente o motorista gritou:
- O @#@$#$%$#@@$ que fez isso não tem mãe não!
- Mãe ele tem. Porque se não tivesse não estaria fazendo essa porcaria aqui. – respondeu o trocador.
As galinhas que eram carregadas em sacos de linhagem começaram
a desfalecer e até um leitãozinho, que cuidadosamente era levado em
uma caixeta de papelão, começou a se movimentar lá dentro. Todo
serelepe, achando que já tinha chegado em casa.
Nisto todos os narizes estavam devidamente tampados e nós rindo
horrores, porque é claro que o autor era um de nós. As mulheres abanavam as saias tentando ventilar o fedor e um senhor de chapéu largo, bigode grande era o único que insistia em não tapar as narinas. Eu olhava para ele com muita pena, porque os olhos dele estavam vermelhos pelo cheiro, lacrimejando pelo gás mortífero.
- Esses meninos acham que a gente da roça é porco. Eles é que não
têm educação.
Educação eu tenho e também acho que tem local certo para essas
coisas . Mas, sempre tem um mas, infelizmente aquilo foi uma coisa natural, ou ele saia ou eu corria o risco de ser incinerado de dentro para fora.
Depois de um tempo o fedor se dissipou e viagem continuou sem
maiores complicações. A não ser pelo fato do Júlio cheirar toda hora a
roupa:
- Credo! Esse cheiro grudou em mim. Quando chegar lá terei que jogar essa roupa fora.
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