Depois de andar quase uma hora de ônibus e por mais de duas horas a pé finalmente chegamos ao tão sonhado sítio.
Não esperávamos nada demais, afinal o sítio da tia do Tiaguinho era o último do último do Córrego do Soldado. Tanto que logo na entrada, havia um par de botas deixadas por Judas quando ele passou por lá.
Ficamos alguns minutos contemplando a casa. Um curral na frente, duas janelas, um corregozinho correndo a esquerda com uma pinguela para se atravessar.
Eu, cansado depois de correr atrás de uma charrete que não me levou a lugar nenhum e depois de litros de Coca-cola quente, que me fervilhavam o intestino até àquela hora da manhã, achei o lugar um palácio, pelo menos por fora. Subimos todos a pequena escada. Éramos uns 12 naquele sábado, o resto do pessoal viria no domingo pela manhã.
Junto conosco, carne, bebidas, arroz, que o Aldair não esqueceu e outras bugigangas. Todos famintos, por comida, bebida e principalmente diversão. O Tiago tinha nos prometido várias cachoeiras. Mas, sempre tem um mas, depois dos 15 minutos de caminhada que se estenderam por mais de 2 horas, já desconfiávamos da veracidade da queda d’agua.
Ao abrir a porta, ela fez um inhec. Sinal que ela abria poucas vezes durante o ano.
- Putz, pensei. Agora só falta eu, nessa canseira, ter que arrumar essa casa.
Para o meu espanto o lugar, por dentro, era ainda maior e estava lim-po. A tia do Tiago tinha pedido a não sei quem para limpar a casa.
Assim que entramos, percebemos uma pequena salinha, dois quartos. O da esquerda já descartamos logo de cara. Credo! O quarto tinha só uma cadeira. Nada de móveis. Parecia aqueles quartos de filme de terror dos anos 80.
Aliás, no meu pensamento a qualquer hora o Jason, da série “Sexta-feira 13”, apareceria com a moto serra. Sorte que não havia lago.
Logo depois uma copa, com um banheiro e mais dois quartos. Desta vez grandes, um com uma cama de casal e outro com beliches. Depois uma cozinha, não me lembro se tinha despensa. Uma área de serviço e acabava-se a casa. Aconchegante até. Tipo aquelas casas de fazenda antiga com assoalho.
Fomos logo deixando as coisas e tratando de nos acomodar. Era confuso demais. Cada um querendo a melhor cama. Por fim, já cansados e com fome nos dividimos.
A primeira coisa que tratamos de fazer foi o almoço. Na verdade, a primeira coisa foi ligar a porcaria da bomba d’agua para encher a caixa. Pior que a bomba ficava longe da casa, só para variar. Dividimos as tarefas. Enquanto alguns varriam a casa, outros tratavam de preparar o almoço, ligar o som, acender a churrasqueira. Colocar a bebida para gelar e assim por diante.
O Júlio, o Tiago e o Aldair ficaram com o almoço. Era engraçado demais ver o Tiaguinho com um pano de prato no ombro, pedindo para a gente não quebrar nada, tomar cuidado com isso, com aquilo, com aquilo outro.
Para delírio do Aldair, ele achou um pacote de feijão preto.
- Ai que delícia, vamos cozinhar feijão.
- Aldair, não tem panela de pressão. Onde você vai cozinhar isso.
- A gente coloca um tanto d’agua numa panela, quando ferver coloca mais água e assim ele vai cozinhando.
Preciso dizer que se você, caro leitor, acha que o fogão era a gás, esqueça. Era a lenha. Que se você acha que as panelas eram limpas e de alumínio. Esqueça mais ainda. A panela que o Aldair colocou o feijão era de ferro. Da época em que o ferro ainda era escrito com PH. Se é que um dia foi assim.
A panela de arroz era de barro, pelo menos um dia foi. Enquanto os nossos cozinheiros se desdobravam na cozinha, nós investigávamos o lugar, menos o quarto apelidado “morte do demônio”, outra alusão a um filme de terror dos anos 80.
A casa era de assoalho, por baixo havia uma espécie de porão. Pelas gretas era possível ver que ele estava abandonado há décadas.
Descobrimos que eles não colocavam punhados de veneno para ratos. Eles rasgavam a caixa inteira. Imagina quantos roedores existiam ali.
Quando saímos para o quintal, o Tiaguinho gritou:
- Não vão perto do silo não, porque lá tem muita cascavel, por causa dos ratos.
A pinguela que tinha visto na chegada era um tronco de coqueiro caído no leito do córrego, com um bambu atravessado servindo de corrimão.
A casa, que antes era morta, com nossa presença pareceu criar vida. Depois de atravessarmos a ponte improvisada, para chegar onde o córrego era mais fundo, descobrimos um poço. Àquela hora, naquele calor, decidimos mergulhar ali mesmo.
Não lembro quem foi o primeiro, só me lembro de vários terem pulado do barranco, de bomba, o primeiro que levantou foi o Dodete:
- Credo é puro barro este fundo.
Saímos todos lá de dentro, meio homem, meio barro. Minutos depois secando ao sol, a profecia tinha se cumprido, voltamos ao pó.
Ficamos brincando naquela água, quando de repente alguém gritou:
- A casa está pegando fogo.
Quando olhei, existia fumaça demais na casa. Só podia ser um incêndio mesmo. A fumaça vinha da área de serviço. Sabia que cozinhar no fogão a lenha não ia dar certo. Corremos todos. Eu, para variar fiquei para trás. Quando fui passar pela pinguela, ela já estava toda molhada, enlameada. Com cuidado fui passo a passo pelo coqueiro.
O Fabrício, vendo meu temor, voltou. E com um sorriso sarcástico no rosto, balançou o corrimão improvisado. Resultado: cai naquela água esverdeada.
Cheguei por último na casa, aproveitei que era o último a chegar e ainda peguei um balde d’agua em um cocho, para apagar o possível incêndio.
Ao chegar lá, percebi que o fogo era na verdade alguém tentando acender a churrasqueira.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Corrida contra a charrete e salto em altura, ou de como novecentos segundos no relógio dos outros pode não ser resfresco
Depois que o ônibus nos deixou na empoeirada estrada do Córrego do Soldado, o Tiaguinho, até então anfitrião da aventura, nos disse que eram apenas 15 minutos de caminhada até o sítio.
Pegamos nossos apetrechos e começamos a caminhar. Cada um ficou com uma coisa e depois do “incidente” envolvendo a Coca-cola eles não me deixaram carregar nada que pudesse quebrar, partir, estragar ou se perder se
viesse ao chão.
Coube a mim carregar parte da carne que assaríamos ainda aquela noite. Eram seis quilos de carne devidamente acondicionados em uma mochila jeans.
Como eu carregava a minha própria mochila, com roupas, toalha, um monte de badulaque inútil e mais o cobertor, a mochila com a carne ia no braço mesmo.
O dia estava bonito, o pasto verde, a estrada um pouco empoeirada, mas com o frescor da manhã uma caminhada de 15 minutos não seria de toda ruim.
Característica da adolescência, íamos na maior algazarra descendo e subindo morros, passando por algumas fazendas, conversando animadamente.
Já tínhamos caminhado os 15 minutos que o Tiaguinho tinha falado e para nós qualquer casa, casebre ou fazenda que aparecia na próxima esquina poderia ser o nosso sítio. A promessa de uma cachoeira nos alegrava.
Vinte minutos já tinham se passado e a gente ainda andando. A esta altura, o sol já começava a incomodar e os fardos que íamos carregando começavam a ficar pesados. Começamos a reclamar com o Tiago que, ironicamente, respondia que já estava chegando. Meia hora depois eu já estava com o braço doendo.
Seis quilos são poucos, mas quando se caminha levando uma mochila assim, ela começa a pesar. Debaixo de um sol forte então o peso triplica.
Já haviam se passado quarenta minutos que tínhamos deixado o ônibus para trás e já estávamos querendo matar o Tiaguinho e os seus malditos 15 minutos.
- Quinze minutos de moto, você quis dizer né?!
- De moto não, de avião. Ô Tiago, cadê a porcaria do sítio? – reclamávamos de tempos em tempos.
Depois de uma hora de caminhada eu já estava querendo trucidar o idiota que tinha sugerido para eu levar a carne. O céu sem nuvens e o sol forte tornavam a viagem mais cansativa. O meu consolo era que a carne pelo menos estava meio congelada e para espantar o calor era só eu a manter perto do corpo. A minha situação também não era a pior. O Juninho Cabeça levava um colchão pesado, destes que nem dá para enrolar direito, e já estava querendo o deixar na estrada e pegar na volta quando o Tiago anunciou que teríamos que tomar um atalho.
Numa curva da estrada, entramos pela mata adentro. O local era mais agradável que a estrada poeirenta, mas nossa alegria durou pouco, rapidamente nos encontramos novamente na estrada.
Depois de dez minutos que saímos do “atalho” comecei a ficar para trás de cansaço. A carne começou a descongelar, meus músculos já doíam e não tinha nem mais força para xingar o Tiago.
Fui ficando para trás e o pessoal também ia calado, com o rosto suado, com raiva e com cansaço. Num determinado
momento, em um vale, percebi que lá no alto do morro, vinha uma nuvem de poeira. Pensei:
- Oba um carro ou um caminhão. Vou ficar para trás porque aí eu peço carona.
Imaginava eu que nenhum motorista de bom coração iria me deixaria na estrada, mas se tivesse com a turma ele poderia passar direto.
Diminui o passo, fiz cara de mais moribundo do que realmente estava e percebi a aproximação da nuvem de poeira.
Mas, sempre tem um mas, para minha tristeza não era um carro ou caminhão, era uma charrete puxada por um pangaré. Na minha condição aquilo era uma carruagem:
- Dia. O sinhô me dá uma caroninha? – disse eu utilizando o idioma local.
- Pode subir – respondeu o condutor da charrete.
Mas ele não parou a charrete. O cavalinho continuou o seu trote e mesmo com as duas mochilas e apesar do cansaço, tive que correr um pouco para jogar a mochila com a carne dentro da charrete. Corri mais um pouco e joguei a minha mochila e o cobertor. Livre da tralha ia ficar mais fácil de subir na charrete.
Não sei se foi o barulho das coisas caindo ou se a vingança do cavalo por carregar mais peso, a verdade é que o animal acelerou e a charrete se distanciava.
O jeito era correr e quando chegava perto, tentava subir e não conseguia. Ainda estava naquela peleja toda, quando a charrete e eu, correndo feito louco, tentando subir na danada, alcançamos os meus amigos.
Mais ágeis que eu eles subiram rapidinho e o espaço foi ficando pequeno. Nisto eu já estava com “os bofes” pulando para fora. O Cabeça já tinha jogado o colchão e se preparava para subir. Eu já tinha corrido uns 300 metros
e nada de subir na charrete. Foi quando reuni o resto das forças, desabalei numa corrida louca e pulei, de costas, como salto em altura e ploft: consegui cair dentro da charrete.
Ainda estava me recuperando da pancada nas costas e começando a me levantar quando senti o condutor virando o cabresto e saindo da estrada
principal.
A manobra veio seguida de um “ÔOOOOOOAAAAAAA” e a charrete parou.
- Agora “ôces” pode “apiá”, porque eu vou parar aqui - disse o condutor.
A minha vontade era de chorar. O resto das minhas forças tinha ficado naquela charrete. Os quase 300 metros percorridos tinham me exaurido mas, sempre tem um mas, ao voltarmos para a estrada o Tiaguinho ainda chutou o cachorro morto:
- Preocupa não gente. Agora a gente só tem que passar seis porteiras. Garanto que são só mais 15 minutinhos.
Quase duas horas depois dos 15 minutos iniciais chegamos ao sítio, mas isso é outra história......
Pegamos nossos apetrechos e começamos a caminhar. Cada um ficou com uma coisa e depois do “incidente” envolvendo a Coca-cola eles não me deixaram carregar nada que pudesse quebrar, partir, estragar ou se perder se
viesse ao chão.
Coube a mim carregar parte da carne que assaríamos ainda aquela noite. Eram seis quilos de carne devidamente acondicionados em uma mochila jeans.
Como eu carregava a minha própria mochila, com roupas, toalha, um monte de badulaque inútil e mais o cobertor, a mochila com a carne ia no braço mesmo.
O dia estava bonito, o pasto verde, a estrada um pouco empoeirada, mas com o frescor da manhã uma caminhada de 15 minutos não seria de toda ruim.
Característica da adolescência, íamos na maior algazarra descendo e subindo morros, passando por algumas fazendas, conversando animadamente.
Já tínhamos caminhado os 15 minutos que o Tiaguinho tinha falado e para nós qualquer casa, casebre ou fazenda que aparecia na próxima esquina poderia ser o nosso sítio. A promessa de uma cachoeira nos alegrava.
Vinte minutos já tinham se passado e a gente ainda andando. A esta altura, o sol já começava a incomodar e os fardos que íamos carregando começavam a ficar pesados. Começamos a reclamar com o Tiago que, ironicamente, respondia que já estava chegando. Meia hora depois eu já estava com o braço doendo.
Seis quilos são poucos, mas quando se caminha levando uma mochila assim, ela começa a pesar. Debaixo de um sol forte então o peso triplica.
Já haviam se passado quarenta minutos que tínhamos deixado o ônibus para trás e já estávamos querendo matar o Tiaguinho e os seus malditos 15 minutos.
- Quinze minutos de moto, você quis dizer né?!
- De moto não, de avião. Ô Tiago, cadê a porcaria do sítio? – reclamávamos de tempos em tempos.
Depois de uma hora de caminhada eu já estava querendo trucidar o idiota que tinha sugerido para eu levar a carne. O céu sem nuvens e o sol forte tornavam a viagem mais cansativa. O meu consolo era que a carne pelo menos estava meio congelada e para espantar o calor era só eu a manter perto do corpo. A minha situação também não era a pior. O Juninho Cabeça levava um colchão pesado, destes que nem dá para enrolar direito, e já estava querendo o deixar na estrada e pegar na volta quando o Tiago anunciou que teríamos que tomar um atalho.
Numa curva da estrada, entramos pela mata adentro. O local era mais agradável que a estrada poeirenta, mas nossa alegria durou pouco, rapidamente nos encontramos novamente na estrada.
Depois de dez minutos que saímos do “atalho” comecei a ficar para trás de cansaço. A carne começou a descongelar, meus músculos já doíam e não tinha nem mais força para xingar o Tiago.
Fui ficando para trás e o pessoal também ia calado, com o rosto suado, com raiva e com cansaço. Num determinado
momento, em um vale, percebi que lá no alto do morro, vinha uma nuvem de poeira. Pensei:
- Oba um carro ou um caminhão. Vou ficar para trás porque aí eu peço carona.
Imaginava eu que nenhum motorista de bom coração iria me deixaria na estrada, mas se tivesse com a turma ele poderia passar direto.
Diminui o passo, fiz cara de mais moribundo do que realmente estava e percebi a aproximação da nuvem de poeira.
Mas, sempre tem um mas, para minha tristeza não era um carro ou caminhão, era uma charrete puxada por um pangaré. Na minha condição aquilo era uma carruagem:
- Dia. O sinhô me dá uma caroninha? – disse eu utilizando o idioma local.
- Pode subir – respondeu o condutor da charrete.
Mas ele não parou a charrete. O cavalinho continuou o seu trote e mesmo com as duas mochilas e apesar do cansaço, tive que correr um pouco para jogar a mochila com a carne dentro da charrete. Corri mais um pouco e joguei a minha mochila e o cobertor. Livre da tralha ia ficar mais fácil de subir na charrete.
Não sei se foi o barulho das coisas caindo ou se a vingança do cavalo por carregar mais peso, a verdade é que o animal acelerou e a charrete se distanciava.
O jeito era correr e quando chegava perto, tentava subir e não conseguia. Ainda estava naquela peleja toda, quando a charrete e eu, correndo feito louco, tentando subir na danada, alcançamos os meus amigos.
Mais ágeis que eu eles subiram rapidinho e o espaço foi ficando pequeno. Nisto eu já estava com “os bofes” pulando para fora. O Cabeça já tinha jogado o colchão e se preparava para subir. Eu já tinha corrido uns 300 metros
e nada de subir na charrete. Foi quando reuni o resto das forças, desabalei numa corrida louca e pulei, de costas, como salto em altura e ploft: consegui cair dentro da charrete.
Ainda estava me recuperando da pancada nas costas e começando a me levantar quando senti o condutor virando o cabresto e saindo da estrada
principal.
A manobra veio seguida de um “ÔOOOOOOAAAAAAA” e a charrete parou.
- Agora “ôces” pode “apiá”, porque eu vou parar aqui - disse o condutor.
A minha vontade era de chorar. O resto das minhas forças tinha ficado naquela charrete. Os quase 300 metros percorridos tinham me exaurido mas, sempre tem um mas, ao voltarmos para a estrada o Tiaguinho ainda chutou o cachorro morto:
- Preocupa não gente. Agora a gente só tem que passar seis porteiras. Garanto que são só mais 15 minutinhos.
Quase duas horas depois dos 15 minutos iniciais chegamos ao sítio, mas isso é outra história......
Refrigerante de desjejum... ou de como Coca quente derrete até bigode
Há um tempo, numa galáxia muito, muito distante decidimos ir para um sítio. A tia do meu amigo Tiago Quites, hoje no Rio de Janeiro, emprestou o sítio para gente passar o final de semana. Juntamos o
pessoal do teatro, fizemos as compras e na sexta-feira grande parte da “Turma dos Minitão” dormiu lá em casa, pois no sábado pela manhã sairíamos de madrugada para pegar o ônibus.
Acordamos muito cedo, porque o Coletivo saia antes das seis horas e
como o ponto era longe de casa tínhamos que nos apressar.
Ainda de madrugada um grupo com colchões, mochilas, cobertores, material de limpeza, bebidas, comidas e muita animação deslizava pelo bairro de Lourdes rumo ao Centro.
Coube a mim carregar os refrigerantes. Não sei quantas garrafas pets
eram, mas o negócio pesava “pra caramba”.
Íamos rapidamente, porque senão perderíamos o único ônibus que saia pela manhã e então só teria outro no começo da noite. Com o balançar e a correria, uma das sacolas que eu carregava acabou arrebentando e vários pets rolaram pelo asfalto.
Uma garrafa de Coca-Cola estourou. Muito sacanas, os meus amigos
me obrigaram a beber o refrigerante que sobrou.
- Vai beber! Deixamos de comprar um monte de coisa para comprar
este refrigerante. Não pode desperdiçar mais não – diziam eles.
Ainda tentei argumentar que não eram nem seis horas e que a Coca
estava quente. Mas não teve jeito, tive que beber o resto do líquido
escuro, quente e cheio de gás.
Chegamos ao ponto e ainda bem que o ônibus estava lá. Entramos,
mas ao sentar nos bancos notamos que o Aldair ainda não tinha chegado.O hoje Padre Aldair ficou de trazer os 5 kg de arroz e sem eles com certeza o que tínhamos não daria nem para o começo.
O motorista ligou o ônibus e nós desesperados. O motorista esquentando o motor e nada do Aldair chegar. O motorista ajustando os retrovisores e nada do Aldair. O motorista então sentou no seu banco, fechou as portas, engatou a primeira e começou a arrancar, mas, sempre tem um mas, ainda deu tempo dele olhar pelo retrovisor e ver alguém correndo de mochila, um cobertor vermelho, qual super herói, e um saco de arroz nas mãos gritando “Espera...espera”. Finalmente o pão, quer dizer o arroz, estava garantido.
O ônibus arrancou, foi passando nos pontos e gente entrando. Na
verdade era um desses coletivos, de janelas apenas na parte de cima e que carregam todo tipo de coisa e gente.
Saímos da cidade com o povo entulhado até o teto. Entramos em uma estrada poeirenta e o “buzão” sacolejando.
Íamos animados com a viagem, mas depois de uns dez minutos aquele sacoleja-sacoleja começou a me incomodar.
Os “quase um litro” de Coca quente que eu havia tomado começaram
a fazer efeito e o intestino começou num ronca-ronca sem piedade. Eu, internamente, conversava com ele:
- Não faz isso comigo. O ônibus está cheio. Aguenta as pontas.
Mas ele respondia cheio de mágoas. E depois de um mata-burro não
me agüentei e soltei um “pumzinho”.
Na verdade não foi um pumzinho, foi uma podridão imensa ainda
que silenciosa. Descobri neste dia que Coca realmente limpa pia, porque o negócio foi subindo pelo meu corpo queimando feito louco.
Quando chegou ao nariz, achei que havia um bicho morto dentro de mim.
Mantive a pose como se não fosse comigo, mas o Júlio Santos, que
estava ao meu lado, praticamente me denunciou. Ele arregalou os olhos e imediatamente se levantou para respirar o ar cheio de poeira vindo da janela, que só ficava na parte de cima.
Enquanto isto, o gás mortífero se espalhava pelo Coletivo, para que
coletivamente todos pudessem sentir o cheiro da morte.
Meus amigos começaram a reclamar e era tanto “Nuuuuuuu”, “Pelo
amor de Deus”, “Abre logo as janelas”, “Tem um urubu, morto aqui” que a cena ficou hilária.
O fedor se espalhou tanto que lá da frente o motorista gritou:
- O @#@$#$%$#@@$ que fez isso não tem mãe não!
- Mãe ele tem. Porque se não tivesse não estaria fazendo essa porcaria aqui. – respondeu o trocador.
As galinhas que eram carregadas em sacos de linhagem começaram
a desfalecer e até um leitãozinho, que cuidadosamente era levado em
uma caixeta de papelão, começou a se movimentar lá dentro. Todo
serelepe, achando que já tinha chegado em casa.
Nisto todos os narizes estavam devidamente tampados e nós rindo
horrores, porque é claro que o autor era um de nós. As mulheres abanavam as saias tentando ventilar o fedor e um senhor de chapéu largo, bigode grande era o único que insistia em não tapar as narinas. Eu olhava para ele com muita pena, porque os olhos dele estavam vermelhos pelo cheiro, lacrimejando pelo gás mortífero.
- Esses meninos acham que a gente da roça é porco. Eles é que não
têm educação.
Educação eu tenho e também acho que tem local certo para essas
coisas . Mas, sempre tem um mas, infelizmente aquilo foi uma coisa natural, ou ele saia ou eu corria o risco de ser incinerado de dentro para fora.
Depois de um tempo o fedor se dissipou e viagem continuou sem
maiores complicações. A não ser pelo fato do Júlio cheirar toda hora a
roupa:
- Credo! Esse cheiro grudou em mim. Quando chegar lá terei que jogar essa roupa fora.
pessoal do teatro, fizemos as compras e na sexta-feira grande parte da “Turma dos Minitão” dormiu lá em casa, pois no sábado pela manhã sairíamos de madrugada para pegar o ônibus.
Acordamos muito cedo, porque o Coletivo saia antes das seis horas e
como o ponto era longe de casa tínhamos que nos apressar.
Ainda de madrugada um grupo com colchões, mochilas, cobertores, material de limpeza, bebidas, comidas e muita animação deslizava pelo bairro de Lourdes rumo ao Centro.
Coube a mim carregar os refrigerantes. Não sei quantas garrafas pets
eram, mas o negócio pesava “pra caramba”.
Íamos rapidamente, porque senão perderíamos o único ônibus que saia pela manhã e então só teria outro no começo da noite. Com o balançar e a correria, uma das sacolas que eu carregava acabou arrebentando e vários pets rolaram pelo asfalto.
Uma garrafa de Coca-Cola estourou. Muito sacanas, os meus amigos
me obrigaram a beber o refrigerante que sobrou.
- Vai beber! Deixamos de comprar um monte de coisa para comprar
este refrigerante. Não pode desperdiçar mais não – diziam eles.
Ainda tentei argumentar que não eram nem seis horas e que a Coca
estava quente. Mas não teve jeito, tive que beber o resto do líquido
escuro, quente e cheio de gás.
Chegamos ao ponto e ainda bem que o ônibus estava lá. Entramos,
mas ao sentar nos bancos notamos que o Aldair ainda não tinha chegado.O hoje Padre Aldair ficou de trazer os 5 kg de arroz e sem eles com certeza o que tínhamos não daria nem para o começo.
O motorista ligou o ônibus e nós desesperados. O motorista esquentando o motor e nada do Aldair chegar. O motorista ajustando os retrovisores e nada do Aldair. O motorista então sentou no seu banco, fechou as portas, engatou a primeira e começou a arrancar, mas, sempre tem um mas, ainda deu tempo dele olhar pelo retrovisor e ver alguém correndo de mochila, um cobertor vermelho, qual super herói, e um saco de arroz nas mãos gritando “Espera...espera”. Finalmente o pão, quer dizer o arroz, estava garantido.
O ônibus arrancou, foi passando nos pontos e gente entrando. Na
verdade era um desses coletivos, de janelas apenas na parte de cima e que carregam todo tipo de coisa e gente.
Saímos da cidade com o povo entulhado até o teto. Entramos em uma estrada poeirenta e o “buzão” sacolejando.
Íamos animados com a viagem, mas depois de uns dez minutos aquele sacoleja-sacoleja começou a me incomodar.
Os “quase um litro” de Coca quente que eu havia tomado começaram
a fazer efeito e o intestino começou num ronca-ronca sem piedade. Eu, internamente, conversava com ele:
- Não faz isso comigo. O ônibus está cheio. Aguenta as pontas.
Mas ele respondia cheio de mágoas. E depois de um mata-burro não
me agüentei e soltei um “pumzinho”.
Na verdade não foi um pumzinho, foi uma podridão imensa ainda
que silenciosa. Descobri neste dia que Coca realmente limpa pia, porque o negócio foi subindo pelo meu corpo queimando feito louco.
Quando chegou ao nariz, achei que havia um bicho morto dentro de mim.
Mantive a pose como se não fosse comigo, mas o Júlio Santos, que
estava ao meu lado, praticamente me denunciou. Ele arregalou os olhos e imediatamente se levantou para respirar o ar cheio de poeira vindo da janela, que só ficava na parte de cima.
Enquanto isto, o gás mortífero se espalhava pelo Coletivo, para que
coletivamente todos pudessem sentir o cheiro da morte.
Meus amigos começaram a reclamar e era tanto “Nuuuuuuu”, “Pelo
amor de Deus”, “Abre logo as janelas”, “Tem um urubu, morto aqui” que a cena ficou hilária.
O fedor se espalhou tanto que lá da frente o motorista gritou:
- O @#@$#$%$#@@$ que fez isso não tem mãe não!
- Mãe ele tem. Porque se não tivesse não estaria fazendo essa porcaria aqui. – respondeu o trocador.
As galinhas que eram carregadas em sacos de linhagem começaram
a desfalecer e até um leitãozinho, que cuidadosamente era levado em
uma caixeta de papelão, começou a se movimentar lá dentro. Todo
serelepe, achando que já tinha chegado em casa.
Nisto todos os narizes estavam devidamente tampados e nós rindo
horrores, porque é claro que o autor era um de nós. As mulheres abanavam as saias tentando ventilar o fedor e um senhor de chapéu largo, bigode grande era o único que insistia em não tapar as narinas. Eu olhava para ele com muita pena, porque os olhos dele estavam vermelhos pelo cheiro, lacrimejando pelo gás mortífero.
- Esses meninos acham que a gente da roça é porco. Eles é que não
têm educação.
Educação eu tenho e também acho que tem local certo para essas
coisas . Mas, sempre tem um mas, infelizmente aquilo foi uma coisa natural, ou ele saia ou eu corria o risco de ser incinerado de dentro para fora.
Depois de um tempo o fedor se dissipou e viagem continuou sem
maiores complicações. A não ser pelo fato do Júlio cheirar toda hora a
roupa:
- Credo! Esse cheiro grudou em mim. Quando chegar lá terei que jogar essa roupa fora.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Eu: a mulher mais feia do carnaval
Ah, o Carnaval! Descobri o prazer da folia de Momo muito cedo. Peguei ainda um pouco da época em que as pessoas se acotovelavam na Rua Silva Jardim ou enchiam as pernas e a poupança de farpas nas arquibancadas construídas na Praça da Matriz só para ver as escolas de samba.
Pouco tempo depois a folia foi para Avenida Jove Soares e
com ela as “sedes” de turmas, o carnaval na antiga Kibel, as blusas de turmas.
Vi Daniele Winits, jurada do carnaval, de perto, enganei os porteiros das arquibancadas pagas e entrei escondido no local, vi a primeira mulher de seios de fora desfilar em Itaúna.
Histórias de carnaval? Sim, tenho muitas. Mas as melhores, com certeza, aconteceram na quinta-feira, no bloco Pau de Gaiola.
Sou da época em que íamos para a Praça da lagoinha ao meio-dia e só porque estamos vestidos de mulher ganhávamos cerveja. Folia descompromissada, tipicamente da juventude.
Pois foi numa dessas noites que eu fui escolhido a “mulher mais feia do carnaval” – a rainha do pau de gaiola.
Num ano qualquer, nos preparamos na casa da minha mãe. Éramos um monte, difícil de contar, mas sempre unidos.
Enfiei-me num vestido azul de bolinhas brancas, passei batom rosa coloquei um lenço na cabeça e uma estratégica bolsa de crochê de lado, utilizada para guardar um short e uma camisa.
Como morava longe não dava para voltar para casa e trocar de roupa, depois que o desfile acabasse. Não é que eu fiquei feio. Eu fiquei horroroso, ou melhor, horrorosa. Os outros se fantasiaram e lá fomos nós, do bairro de Lourdes a Praça da Lagoinha.
Bebida vai, bebida vem, dancinhas ensaiadas, passos desconcertados e a noite rendendo. Lá pelas tantas, um sujeito cisma comigo e começa a querer brigar. Sempre fomos e seremos da paz, mas é que o cara encheu tanto o saco que eu acabei mandando ele para aquele lugar. Ele partiu para cima de mim como um trator. Mas “safo” como sempre fui, sai de fininho e entrei no banheiro do Sandoval.
Do alto da minha tontura de três latinhas de cerveja, olhava para o meu quase agressor e tentava achar uma “arma”, algo que eu pudesse me defender.
Em um banheiro? Bem, era meio difícil, mas, sempre tem mas, não é que eu encontrei?!.
Encontrei um rolo de papel higiênico pela metade e um desentupidor de vaso. Mas não era um desentupidor de vaso qualquer, era um mega desentupidor.
De escudo e espada na mão sai do banheiro me borrando, mas firme no vestidinho azul. Passei ao lado do meu quase agressor e ele não falou nada, era sinal que nossa guerra havia acabado.
Aquilo para mim já seria a glória, mas não é que quando eu saio o locutor anunciava o início do desfile para escolher a mulher mais feia do carnaval?!
Quando eu dei por mim estava no meio da passarela e alá
Gisele Bündchen, com um desentupidor de um lado e papel higiênico do outro, fui e voltei na passarela. Depois de mim vieram dezenas de “delicadas” senhoras.
Ao final das apresentações o locutor anunciou: “a mulher mais feia do carnaval e rainha do Pau de Gaiola é... (suspense) a primeira que desfilou”
Sabe que a ficha não caiu direto?! Fiquei ainda pensando:
“Quem será essa?” Mas logo me lembrei que era eu mesmo e sai como um louco em busca do meu prêmio: uma caixa de cerveja em lata.
Do prêmio só me lembro de não ter ficado com nada, porque os meus amigos rasgaram o fardo e roubaram todas as latinhas.
Tive a honra de desfilar com estandarte “desentupidor de vaso” na mão e ser a mulher mais feia do carnaval.
Pouco tempo depois a folia foi para Avenida Jove Soares e
com ela as “sedes” de turmas, o carnaval na antiga Kibel, as blusas de turmas.
Vi Daniele Winits, jurada do carnaval, de perto, enganei os porteiros das arquibancadas pagas e entrei escondido no local, vi a primeira mulher de seios de fora desfilar em Itaúna.
Histórias de carnaval? Sim, tenho muitas. Mas as melhores, com certeza, aconteceram na quinta-feira, no bloco Pau de Gaiola.
Sou da época em que íamos para a Praça da lagoinha ao meio-dia e só porque estamos vestidos de mulher ganhávamos cerveja. Folia descompromissada, tipicamente da juventude.
Pois foi numa dessas noites que eu fui escolhido a “mulher mais feia do carnaval” – a rainha do pau de gaiola.
Num ano qualquer, nos preparamos na casa da minha mãe. Éramos um monte, difícil de contar, mas sempre unidos.
Enfiei-me num vestido azul de bolinhas brancas, passei batom rosa coloquei um lenço na cabeça e uma estratégica bolsa de crochê de lado, utilizada para guardar um short e uma camisa.
Como morava longe não dava para voltar para casa e trocar de roupa, depois que o desfile acabasse. Não é que eu fiquei feio. Eu fiquei horroroso, ou melhor, horrorosa. Os outros se fantasiaram e lá fomos nós, do bairro de Lourdes a Praça da Lagoinha.
Bebida vai, bebida vem, dancinhas ensaiadas, passos desconcertados e a noite rendendo. Lá pelas tantas, um sujeito cisma comigo e começa a querer brigar. Sempre fomos e seremos da paz, mas é que o cara encheu tanto o saco que eu acabei mandando ele para aquele lugar. Ele partiu para cima de mim como um trator. Mas “safo” como sempre fui, sai de fininho e entrei no banheiro do Sandoval.
Do alto da minha tontura de três latinhas de cerveja, olhava para o meu quase agressor e tentava achar uma “arma”, algo que eu pudesse me defender.
Em um banheiro? Bem, era meio difícil, mas, sempre tem mas, não é que eu encontrei?!.
Encontrei um rolo de papel higiênico pela metade e um desentupidor de vaso. Mas não era um desentupidor de vaso qualquer, era um mega desentupidor.
De escudo e espada na mão sai do banheiro me borrando, mas firme no vestidinho azul. Passei ao lado do meu quase agressor e ele não falou nada, era sinal que nossa guerra havia acabado.
Aquilo para mim já seria a glória, mas não é que quando eu saio o locutor anunciava o início do desfile para escolher a mulher mais feia do carnaval?!
Quando eu dei por mim estava no meio da passarela e alá
Gisele Bündchen, com um desentupidor de um lado e papel higiênico do outro, fui e voltei na passarela. Depois de mim vieram dezenas de “delicadas” senhoras.
Ao final das apresentações o locutor anunciou: “a mulher mais feia do carnaval e rainha do Pau de Gaiola é... (suspense) a primeira que desfilou”
Sabe que a ficha não caiu direto?! Fiquei ainda pensando:
“Quem será essa?” Mas logo me lembrei que era eu mesmo e sai como um louco em busca do meu prêmio: uma caixa de cerveja em lata.
Do prêmio só me lembro de não ter ficado com nada, porque os meus amigos rasgaram o fardo e roubaram todas as latinhas.
Tive a honra de desfilar com estandarte “desentupidor de vaso” na mão e ser a mulher mais feia do carnaval.
Bidu: a reencarnação de Marley
Sinceramente. John Grogan não tinha razão ao dizer que seu cão Marley era o pior cão do mundo. Existem centenas de caninos muito piores, mas a grande sacada do jornalista foi transformar o cão em livro.
Qualquer crônica canina depois de “Marley e eu” vai parecer plágio. Mas eu não me importo com rótulos e abro mão da minha autenticidade para falar, do verdadeiro pior, melhor cão do mundo.
Quando decidimos adotar o Bidu, um vira-lata, que na época era pouco maior que um hamster, não sabíamos as dores de cabeças, risadas e comprimidos de Lexotan que teríamos que tomar por causa daquele biduzinho perdido na rua.
O Bidu é daqueles cachorros desesperados. Que sai batendo o rabo em tudo e come qualquer coisa, até bucha de lavar vasilhas. Quando ele era pequeno, entrava no saco de ração e comia, comia, aí dormia e quando acordava voltava a comer.
E isso praticamente de meia em meia hora. O fato de ter sido um menino de rua pode ter contribuído para sua fome eterna, mas o que mais nos chateia é a semvegonhice desse vira-lata.
Minha irmã costuma dizer que Deus é muito sábio. Pois se o cão dela, um dog alemão de mais de metro tivesse a mesma personalidade do Bidu ela não teria mais casa.
O nosso vira-lata, hoje pouco maior do que um Basset, mas com a força de um Pitbull, consegue ser infinitamente pior do que o cão de Grogan.
Como este espaço é pequeno e as peripécias do Bidu são muitas vou contar aqui apenas o episódio que mais me constrangeu.
Um dia, eu estava saindo de casa, quando percebi que uma moça vinha em minha direção com seus dois poodles. As bolas de pêlo pareciam cachorros de cinema e saídos do pet shop de tão branquinhos que estavam. Quando vi aquela cena pensei:
- Vou fechar o portão porque senão o Bidu vai aprontar. Mas, sempre tem um mas, o Bidu, além de bagunceiro, também lê pensamentos. Assim que comecei a fechar o portão o danadinho conseguiu sair por uma pequena fresta que hoje não passa nem calango.
Ele correu para os poodles e os três ficaram se encarando. Um estudando o outro, como boxeadores antes da luta. No fundo, eu sabia que não ia ter briga, porque apesar de tudo, o Bidu é um cachorro da paz, mas vai explicar isso para a dona dos cães, que a essa altura do campeonato já estava com os olhos marejados d’água e pedindo pelo amor de Deus para eu ajudar.
Chamei e nada do Bidu voltar. Como um Mike Tyson dos cães o Bidu continuava encarando seus adversários. Ai comecei a ficar preocupado, porque imagina se ele dá um jumper ou cruzado de focinho esquerdo nos cachorrinhos da menina. Ia ser uma tosa desleal.
Corri ao encontro do ringue armado no meio da rua e da menina prestes a desmaiar com medo dos seus poodles virarem pompons da torcida azul celeste rosa bebê. Tentei ainda espantar o Bidu, mas ele parecia hipnotizado pelas bolas de pêlos branquinhas.
Não havia outra saída a não ser pegar o Bidu no colo e levá-lo de volta para casa. Foi o que eu fiz. Mas já disse aqui: o Bidu lê pensamentos. Não é que no momento exato que me abaixei e comecei a suspendê-lo, ele, vendo que não havia alternativa, simplesmente para sair como machão da história, levantou a perna e fez xixi nos poodles.
Eu preferia ter apartado uma briga feia a ver a cara de nojo da dona dos cachorrinhos. Aqueles olhos que estavam marejados de medo agora refletiam um misto de cólera e ânsia e as lágrimas que rolaram não foram de alívio.
Como eu não tinha mais o que fazer virei as costas e fui embora com o Bidu olhando para mim com aquela cara de satisfação.
A menina, bem, a menina também foi embora com seus poodles branquinhos. Agora com uma faixa amarela nas costas.
Bidu no seu esporte preferido
Qualquer crônica canina depois de “Marley e eu” vai parecer plágio. Mas eu não me importo com rótulos e abro mão da minha autenticidade para falar, do verdadeiro pior, melhor cão do mundo.
Quando decidimos adotar o Bidu, um vira-lata, que na época era pouco maior que um hamster, não sabíamos as dores de cabeças, risadas e comprimidos de Lexotan que teríamos que tomar por causa daquele biduzinho perdido na rua.
O Bidu é daqueles cachorros desesperados. Que sai batendo o rabo em tudo e come qualquer coisa, até bucha de lavar vasilhas. Quando ele era pequeno, entrava no saco de ração e comia, comia, aí dormia e quando acordava voltava a comer.
E isso praticamente de meia em meia hora. O fato de ter sido um menino de rua pode ter contribuído para sua fome eterna, mas o que mais nos chateia é a semvegonhice desse vira-lata.
Minha irmã costuma dizer que Deus é muito sábio. Pois se o cão dela, um dog alemão de mais de metro tivesse a mesma personalidade do Bidu ela não teria mais casa.
O nosso vira-lata, hoje pouco maior do que um Basset, mas com a força de um Pitbull, consegue ser infinitamente pior do que o cão de Grogan.
Como este espaço é pequeno e as peripécias do Bidu são muitas vou contar aqui apenas o episódio que mais me constrangeu.
Um dia, eu estava saindo de casa, quando percebi que uma moça vinha em minha direção com seus dois poodles. As bolas de pêlo pareciam cachorros de cinema e saídos do pet shop de tão branquinhos que estavam. Quando vi aquela cena pensei:
- Vou fechar o portão porque senão o Bidu vai aprontar. Mas, sempre tem um mas, o Bidu, além de bagunceiro, também lê pensamentos. Assim que comecei a fechar o portão o danadinho conseguiu sair por uma pequena fresta que hoje não passa nem calango.
Ele correu para os poodles e os três ficaram se encarando. Um estudando o outro, como boxeadores antes da luta. No fundo, eu sabia que não ia ter briga, porque apesar de tudo, o Bidu é um cachorro da paz, mas vai explicar isso para a dona dos cães, que a essa altura do campeonato já estava com os olhos marejados d’água e pedindo pelo amor de Deus para eu ajudar.
Chamei e nada do Bidu voltar. Como um Mike Tyson dos cães o Bidu continuava encarando seus adversários. Ai comecei a ficar preocupado, porque imagina se ele dá um jumper ou cruzado de focinho esquerdo nos cachorrinhos da menina. Ia ser uma tosa desleal.
Corri ao encontro do ringue armado no meio da rua e da menina prestes a desmaiar com medo dos seus poodles virarem pompons da torcida azul celeste rosa bebê. Tentei ainda espantar o Bidu, mas ele parecia hipnotizado pelas bolas de pêlos branquinhas.
Não havia outra saída a não ser pegar o Bidu no colo e levá-lo de volta para casa. Foi o que eu fiz. Mas já disse aqui: o Bidu lê pensamentos. Não é que no momento exato que me abaixei e comecei a suspendê-lo, ele, vendo que não havia alternativa, simplesmente para sair como machão da história, levantou a perna e fez xixi nos poodles.
Eu preferia ter apartado uma briga feia a ver a cara de nojo da dona dos cachorrinhos. Aqueles olhos que estavam marejados de medo agora refletiam um misto de cólera e ânsia e as lágrimas que rolaram não foram de alívio.
Como eu não tinha mais o que fazer virei as costas e fui embora com o Bidu olhando para mim com aquela cara de satisfação.
A menina, bem, a menina também foi embora com seus poodles branquinhos. Agora com uma faixa amarela nas costas.
Bidu no seu esporte preferido
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